RODA GIGANTE
Hoje comecei a fazer o caminho de Santiago de Compostela. E prevejo uns quarenta dias de caminhada. Mas não importa... Deixei para trás o relógio. O tempo faz-se a cada novo passo dado.
Quando o sol surgiu no meu céu, saí do albergue e estou aqui - no meio da estrada. A alguns passos a diante. Mas ainda na França. E um dia chegarei à Espanha. Isso agora é o mais importante. Caminhar. A minha vida precisa de um pouco de sorte. E está mais do que na hora. Assim, repensarei a minha vida, pensando em ontem. Pensando em mim.
Ontem o sonho tornou-se uma estaca no meu coração. Vampiro no quarto minguante. A raíz na qual brotou o meu tronco, tornou-se estéril. Seca. Crua. A vida abalada pela realidade e o amor decepado do meu peito. A inércia tomou-me de surpresa. Restou-me admitir as minhas fraquezas. Meus medos. Levei um tombo no momento mais infeliz da minha vida. Perdi a dignidade quando tudo parecia tão cruel, que nada de pior precisava acontecer. No momento em que falava mais para nós – do que para o outro.
Não conseguia mais chorar. Minh'alma estava tão confusa, atropelada por um trator de sobrenome - destino, que o meu Ser Real ficou parado no Limbo. Hades madre-pérola num azul turqueza. Vós podeis perceber a minha angústia? Podeis decifrar o meu interior?
A vida para mim designada começou a desmoronar sob meus olhos. E nada podia deter o meu declínio. Cair parecia a única opção. A mais concreta. Jamais a mais justa.
A vida, é uma inenarrável roda gigante. Não obstante o sonho. Não obstante o coração.
Ontem disseram-me a verdade - sobre tudo que não sou. Vós podeis me entender, mesmo enxergando-me tão mau no fim da estrada? Vós me abraçarias no breu, se eu vôs pedisse ajuda, dando o meu coração avalisado pelo espírito em troca?
A minha angústia é profunda. E atola-se na lama dos meus sapatos. Meu crucifixo existêncial. Meu rosário-diário. Todo o meu tesouro por um minuto de atenção!
Diga-me onde está a luz do sol. Talvez assim, o meu interior retorne a vida, e eu volte a sorrir. Como naqueles tempos em que acreditava no amor. Antes de dedicar toda minha vida à este e ser abandonado no meio do caminho. Sem ter para onde ir. Para quem voltar. Um tempo perdido. Cair de pé sempre foi o meu ponto forte. Feito jogo de varetas. Só que às vezes torna-se incoerente. Sinto-me cansado. Preciso de um milagre para a minha vida.
Ontem o mundo passou numa xícara de café. Coroei-me à poltrona e fiquei relembrando vinganças. Em baixo da cama, luvas de papelão e guache. Minha vida pintada no teto da sala. Turva e triste. Indiscutivelmente bela. Vida minha, será qua algum dia minha fostes? Não insisto... Respostas a essa altura dariam-me vertigem. Não exitaria em pular. Por isso confesso que não sei o que fazer. Sabe aquelas horas que você para e vê a sua vida estasmpada no poste. E se pergunta: Aonde eu estava quando tudo aconteceu? Você esteve lá o tempo todo. Vivei cada momento da vida com amor. E percebe que de nada valeu. Eu estava lá... E estava tão distante, que não pude me encontrar, segurar na minha mão e me pedir para voltar. Vós compreendeis o que o íntimo vôs revela? Ou preferistes ficar atrás do espelho, codificando o grego, sendo latim todo o tempo?
Vós festejais o mundo e ainda me perguntas por quê sou tão só? Talvez o errado seja eu. Lamento não poder responder. Sei tão pouco, sobre tantas coisas, que se juntasse cada uma, compreenderia menos ainda. Minha furtiva loucura. O amor manda-lhe lembranças. E a solidão agradece.
Ontem, peguei-me a soletrar a palavra: FE-LI-CI-DA-DE. Fecharam-me as janelas. Mas descobri uma fresta na parede de onde chegou-me a luz. A vida começa aonde nós estamos. E já consigo ver as torres da Igreja de Santiago. Vós podeis compreender isso? Não responda-me... Depois de andar tanto, sinto que não caminhei um segundo sozinho. Pois meu Anjo Guardião, me carregava no colo. E o cansaço parece muito pouco perto do milagre que vivi. Agora estou livre. Tenho sorte. Tornei-me um peregrino e encontrei a esperança que não conhecia.
Busto dexavado. Solo anuviado... Mesmo que haja somente um sopro de vida em todo o universo, a esperança o acompanhará. Portanto, somente ontem, reencontrei-me. Voltei a acreditar no Elo Perdido. Na busca do contato do Terceiro Grau, que quando imediato, torna-se etério no nosso amanhã. Ontem.
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Lindo, amor! Lindo!
ResponderExcluirMuito bom, Betto! Muuuuuuuuuuuito bom!
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