COLAPSO




Cinco minutos para viver, Cezànne. E nenhum sonho a realizar. Você revira as gavetas e não encontra as chaves do carro. E sente medo, porque não há mais tempo a perder. Percebe que é inútil correr, mas mesmo assim, usa de toda a sua força para continuar acordado. E tudo que tem é muito pouco… O que você quer é apenas continuar a ser um de nós. Um dia todos serão enterrados cara-pálida. Aproveite para ser feliz enquanto pode. Se você tem um trunfo: Use! Uma idéia em branco guardada debaixo do colchão, quando necessário, pode salvar a sua vida.

Você descobre que num mundo onde os sentimentos são leiloados pela internet e vendidos como ouro no mercado paralelo, faz com que qualquer frágil economia leve a Bolsa à queda. À vezes os sentimentos nada valem. Porque não tem preço, Cezànne. Ser só é o destino oculto de todo mundo que vive sem amor. Quando você precisar, eles não vão estar lá para dizer o quanto te amam. É o sinal dos tempos, querido. Pense nisso.

Você pressente que os anos passaram e que não viveu nem a metade do que gostaria. Não quis vender a sua alma por um bilhão de euros, quando roto de fome desejou a morte e ela não veio. Mas agora que tem tudo, pensa em jóias, carros importados, imóveis nos cinco continentes do planeta, e viagens à lua. Deixou o personagem tomar conta do seu drama, querido. E hoje, superpopular, sua alma não vale mais nada. Vendeu-se à mídia por alguns centavos. E nem pão tem para dar de comer. Porque tem fome na alma. Você procura um motivo para parar de reclamar. Ninguém a seu lado para acariciar-lhe o espírito. Ninguém para valorizar-lhe aqueles sentimentos que de tão raros, tornaram-se caros. E sonha com um grande amor. Daqueles saídos dos poemas de García-Lorca, para dizerem o quanto você é bom. Houve somente o som das coisas que de tão caladas, Cezànne, mortificam a alma que permanece no silêncio do fim.


Realize tudo agora. Não faça planos. Preocupe-se apenas com você. E pare de viver a vida dos outros! Eles só aparecem quando você está bem. Quando está em todas as capas de revista. E vendem a sua imagem como se você fosse alvejante de roupas. Literalmente… clean?! De que vale a sua alma vazia, querido, sem você para se vender por qualquer aplauso? Você nasceu só, Cézanne. E agora mais do que nunca – está só. Manter o seu fucinho na mídia custa cada vez mais caro. E você vai ter que pagar! Caso contrário, não procure por seus amigos. Porque eles vão preferir pegar fogo dormindo  a te ouvir. Por isso a diferença entre dois homens está na alma. E quando ela é grande, coração, você sabe o caminho. O destino é rédea nas mãos de poucos. A vida é sua. E você tem cinco minutos para mudar. 



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