SÉCULO I (ANTES DO TEMPO)
Das lutas, vassalas do Tempo (todas mulheres negras) correm temendo seu suserano, dizendo: “Se arrependimento matasse, viverias eternamente...” Persuasão levando-as ao início da alma. Como não sabiam contar as horas, no Tempo esqueceram os dias, vivendo as noites intensamente. Sem perceber-se ultrapassado, o Tempo continuou correndo até envelhecer. Descobriu-se preso no futuro. E esqueceu os passos para voltar atrás, trazendo-as consigo e voltando ao passado. Elas que haviam esquecido-se do Tempo, não se preocuparam em viver tanto. E apenas viviam... Sem o Tempo elas não podiam fazer tudo. Mas tudo era tão simples que resolveram tentar. E para isso não precisavam saber contar.
Das montanhas, vassalas negras louvam ao seu deus: o Tempo. Como explicar as vassalas de um Tempo perdido nele mesmo? Então, não explicar e somente tentar entender. Meninas negras correndo soltas sem saberem em que lugar do mundo estão. Meninas negras, laranjas, cor de caramelo, douradas e metálicas. Meninas que são donas de tudo e sabem disso. Meninas negras que são as herdeiras de um destino tão longo, de uma eternidade que vai além da palavra. E mais uma vez fica sem explicação. Viviam uma realidade figurativa e estilizada, na gênese do barro vermelho, negro, branco e amarelo. Argila Gente. Barro humano. Sendo assim, como explicá-las que realmente não há limites e tudo é possível, se elas sempre souberam disso? Para que perder Tempo em falar que o seu deus está muito longe, e por ser tão apressado esqueceu-se do caminho de casa? Elas ficariam tristes, aprenderiam a sofrer, e ao contar o Tempo - envelheceriam. Deixariam de ser vassalas e tornariam-se escravas. Talvez não fossem nem vassalas. Mas em se conhecendo somente um quarto de vida, só ao Tempo agradeceriam a liberdade.
O planeta vivendo os seus milênios. E no calendário criando datas. Apenas elas estavam sozinhas no século I, sem saberem que viviam no passado. Lembravam-se dos homens que o Tempo levou. Daqueles que sonhavam com o o futuro e correram tanto ou mais que o Tempo que ainda lhes restava... Mas elas sorriam ao lembrar do fogo que o homem julgou criar. Riam ao imaginar o que eram aqules fósseis imensos, sem saberem que os dinossauros a pouco desapareceram dali. Mesmo sabendo que viviam na ignorância, não conheciam mais nada. E só faziam agradecer.
A inocência das vassalas do Tempo, que nem ao seu dono puderam conhecer. Apenas serviam-no. Sem ter homens para amar - amaram ao seu deus, fertilizando a vida no segredo do ventre. Graças a tudo que sabiam fazer, embora não entendessem, criaram os planetas, o universo e a vida. Tinham tantos filhos que ao Tempo reclamavam a ausência de paternidade. Entenderam que o Tempo não cria seus filhos. E elas acreditavam que como o pai - eles iriam crescer e passar. Então um dia o encontrariam e trariam-no para casa. O pai, os filhos que tinham o seu nome, e as mães perdidas no passado do Tempo; ao lado do marido, que também era seu dono e seu deus.
A poligamia do Tempo. O confesso delírio de falar o que não sabe. A mentira que nunca aceita o que não foi dito. Mas cala-se ao ouvir-se como verdade. E aqueles que viveram sem saber que o Tempo pasou... Não sois mais vassalas - disse o Tempo pouco antes de morrer... Sois musas. A esperança de um Tempo aonde sentir era sentimento. Amar era acreditar. E o que não existia, apenas não estava ali. Mas se estivesse concordaria comigo: Nossa vida não é uma reta. É um infinito aos pés da eternidade, dizendo aos vivos que a inexistência da morte é a máxima da vida.
O Tempo não se deu conta, mas as vassalas não estão mais no passado. Os homens que correram ao encontro do Tempo, julgando alcançá-lo, envelheceram. As musas foram devagar, ultrapassaram o Tempo, e como não o conheciam – não o reconheceram. Estão à frente do seu próprio Tempo. E resolveram chamar-se: Mulher. Viva a Mulher! Viva a Mulher Negra! Viva!
CONTACT BETTO BARQUINN:
SÉCULO I (ANTES DO TEMPO) © copyright by betto barquinn 2010
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
Chorei ao ler esse conto. Que coisa linda, Betto. Muito fofo!
ResponderExcluirAmo o seu trabalho, Betto! Parabéns!!!
ResponderExcluir