B.A.S.T.A.!
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(Betto Barquinn é o pseudônimo de Carlos Alberto Pereira dos Santos.)
Eles escravizaram índios e negros. E não falei nada… Eu não tinha nascido. Aí eles tomaram suas terras, exterminaram culturas e civilizações, provocaram o genocídio e o etnocídio dizimador dos grupos indígenas, condenaram os negros ao preconceito de cor, à segregação racial, ao apartheid sócio-econômico da favela-quilombo-senzala. Disseram-me que no Brasil não existe racismo. Percebi que uma pessoa preconceituosa não tem ideia do horror e da humilhação, que é ser discriminado pela cor da pele. E não falei nada... Eu não era negro. Eles quiseram calar os intelectuais com a Ditadura. E não falei nada... Eu não era Pensador. Eles transformaram o país numa piada internacional. E não falei nada… Eu não achei engraçado. Eles tratavam suas empregadas domésticas como se elas fossem lixo. E não falei nada… Eu não era domesticado. Eles fingiram não ver os morros crescendo sem a menor estrutura humanitária. E nem o ódio nascendo no barraco ao lado. Fizeram a mídia do cartão-postal para gringos. E esqueceram de cuidar de seus habitantes, proporcionando-lhes saúde, habitação, saneamento básico, educação, auto-estima, cultura, esporte, trabalho, dignidade, segurança, comida… Achavam lindo ver garotos subnutridos fazendo malabarismo no sinal fechado. Dotados de fisiologismo de tribuna, aplaudiam. Afinal, nunca se sabe qual deles vai parar na geladeira do IML, engrossando as estatísticas e superlotando o freezer dos indigentes. Em troca de votos, praticavam a caridade que dá miséria aos miseráveis. Quando a desordem social virou guerra civil, eles se trancaram em seus castelos blindados, e mandaram os filhos para a segurança de um paraíso fiscal. E eu que achava que não tinha nada haver com isso, não falei nada. Agora, a violência espedaçou-me profundamente, levando numa bala perdida, a liberdade de poder caminhar com minhas próprias pernas. BASTA! Não vou mais ficar calado! No segundo que alguém é vítima da violência a humanidade primeiro fica órfã. Não adianta chorar pelo sangue derramado. Temos que agir. Uma pessoa armada é uma arma! Desarme-se! A violência é um fenômeno passageiro. A paz é eterna! Eu não sou objeto. Sou sujeito! Moro no Rio de Janeiro, sou carioca, cidadão brasileiro, e vou viver pela PAZ.
BASTA não esquecer a dor de Luciana Gonçalves de Novaes, baleada na cantina da Universidade Estácio de Sá no Rio Comprido. Basta não esquecer a dor de Gabriela Prado Maio Ribeiro no Rio de Janeiro. Basta não esquecer a dor de Alana Ezequiel em Vila Isabel. Basta não esquecer a dor de Vanessa Calixto dos Santos na Cidade de Deus. Basta não esquecer a dor de Vladimir Novaes de Araújo em Bonsucesso. Basta não esquecer a dor da doméstica Sirley Dias, covardemente espancada e roubada por jovens de classe media alta na Barra da Tijuca. Ou, a dor do índio Galdino incendiado em Brasília. Ou, a dor do turista italiano, Giorgio Morasse, atropelado e morto por um ônibus, após reagir a um assalto no calçadão de Ipanema. Ou, a dor da professora Vitória Marques, morta com um tiro na cabeça e outro na barriga, após tentativa de assalto em Botafogo. Ou, a dor do menino Hugo Ronca Cavalcante de 12 anos, atingido por uma bala perdida na cabeça dentro do Clube Federal no Alto Leblon, morto após sete dias em estado de coma. Ou, a dor do flamenguista Germano Soares de Souza, 43 anos, agredido numa briga de torcedores no centro do Rio. Ou, a dor dos travestis Maycon Teixeira Karam Mendes, de 20 anos, e Alex Eduardo Silva, 38 anos, assassinados em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. Ou, a dor da menina Ágata Marques dos Santos, 11 anos, morta após ser atingida por uma bala, durante operação policial na Rocinha. Ou, a dor de Lucas Maiorano, 17 anos, morto por overdose de ecstasy numa rave em Itaboraí. Ou, a dor de Isabella Nardoni, 5 anos, assassinada em São Paulo num crime hediondo, torpe, cruel e sem chance de defesa, que enlutou à família brasileira. Ou, a dor dos milhares de homossexuais assassinados, simplesmente, por serem homossexuais. Ou, a dor das mulheres que apanham de seus maridos. Ou, a dor dos filhos que apanham de seus pais. Ou, a dor dos pais que apanham de seus filhos. Ou, a dor da vítima mais recente de hoje, cujo crime o Jornal Nacional acaba de anunciar, e que infelizmente, não foi o último. Ou, ainda, a dor de todos os outros... pobres, ricos, negros, brancos, fiéis e ateus, que perdem todos os dias pelas raias do projetil, os afetos seus, na bala perdida do fuzil.
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Maravilhoso, Betto!!! Amei!
ResponderExcluirParabéns Betto! Você é extremamente consciencioso. Deus te abençoe.Abs!
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