O SONHO DE UM MAGO
Ao coração do Mago sempre se vai.
Nunca se chega.
(Betto Barquinn)
"Os sonhos são uma pintura muda, em que a imaginação a portas fechadas, e às escuras, retrata a vida e a alma de cada um, com as cores das suas ações, dos seus propósitos e dos seus desejos."
(Padre Vieira, no Sermão de São Francisco Xavier Dormindo)
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Eu tenho um sonho …
A energia oscila pelos quatro cantos de uma moeda cabalística. Assim começa a história de um Mago que perdeu seus poderes por sentir-se incapaz de amar. O mago era capaz de se queimar — sem no fogo tocar — enquanto no mais profundo dos sentimentos, o seu amor incinerava-se todo. Ele sabia que a força do seu coração era a única coisa que poderia derrotá-lo. Sabia que um homem, mesmo sendo mago, tinha que aprender a doar-se. Sabia que o que move o universo é algo maior do que o próprio universo. Sabia demais, mas não sabia o primordial. Talvez se o milagre do amor definitivamente surgisse em sua vida, aí então, a magia voltaria a tratá-lo como o melhor amigo que um dia fora.
O Mago por muito tempo pensou e pensou. Tinha dúvidas sobre os caminhos do próprio coração. Não sabia o quanto o verbo amar o levaria à lona ou às nuvens. Teve medo. O que pensar de um mago que não sabe amar? Como sorver da alma de um mago a culpa de não ser como os outros? Passado. Fechou a caixa mágica deixando nela dores, mágoas, rancores, cartolas, varinhas, e, pretéritos. Guardou tudo e jogou-se fora dessa vida. Jogou-se fora dessa sorte. Jogou-se fora do que jamais fora. Jogou-se fora da profecia de uma vida de sentimentos nulos. Seguiu vivendo, numa forma alternativa de viver, sem sentir do amor sequer o cheiro. Seguiu vivendo sim, mas com o tempo, sua vida mudou.
O Mago que vivera sem amor, aprendeu a fazer origami e ficou rico.
Morreu velho e cansado numa ilha do Pacífico.
Casou-se com uma freira, e teve cinco filhos, que tornaram-se monges.
Foi morar com oito dragões alados num lindo Conto de Fadas.
Abriu um pet shop e passou a fazer magia para cães e gatos.
Foi trabalhar no Mc Donnald’s.
Virou travesti e passou a vender incenso num barzinho em Amsterdã.
Conheceu o namorado da mãe e apaixonou-se por ele.
Passou fome.
Usou doce, fez avião, foi embalsamado e vive numa clínica de criogenia na Bélgica.
Ganhou na loteria.
Resgatou um amor.
Casou-se com uma atriz de filme pornô, que segundo ele, ainda é virgem.
Desfilou na Mangueira na ala das baianas.
Foi ao Maracanã e viu o América ser campeão brasileiro.
Aprendeu a fazer acarajé, montou uma barraca no Largo do Machado, e acabou se tornando pai de santo em Salvador.
Virou hippie, aprendeu a gostar da Janis Joplin e mudou o nome para Mercedes Benz.
Foi trabalhar com telemarketing ativo, mesmo sendo passivo.
Aprendeu a fazer tricô e sempre doa casaquinhos e sapatinhos de lã para um asilo de anões descalços.
Trabalhou vinte e cinco anos como garoto de programa e comandou a máfia do sexo na Áustria.
Comprou um hamster pela internet, que acabou crescendo e virando uma ratazana.
Amou muito, sofreu demais, tomou um porre, entrou em depressão, tentou o suicídio, fez terapia, encontrou Jesus e virou pastor da Universal.
Fez um teste para a novela das oito e virou celebridade.
Saiu com a Kristen Stewart, com o Robert Pattinson, com o Taylor Lautner, foi secretário do Barack Obama e amante do Bin Laden.
Estrelou um programa infantil e todos o acham a cara do Bozo.
Tirou dez em matemática, estudou informática e virou dono da Microsoft.
Foi calouro do “Britain´s Got Talent” e cantou com Susan Boyle em todos os palcos do mundo.
Fez uma pequena participação em “The Big Bang Theory”, e foi tão bem, que ganhou um Emmy.
Fez uma pequena participação em “The Big Bang Theory”, e foi tão bem, que ganhou um Emmy.
Plantou uma árvore, escreveu um livro, conheceu Buda, aprendeu a meditar, chegou ao Nirvana e deu para o Kurt Cobain.
Entrou para o Greenpeace e salvou a vida de uma baleia.
Perdeu cem reais, ganhou mil dólares, depôs na CPI do Mensalão, votou no Lula e foi às urnas novamente com a barraca armada vestido de palhaço.
Aprendeu a andar de bicicleta, conheceu a mulher da sua vida, virou Tsuru, decidiu criar o bicho solto e viveu pelado até os cem anos de idade.
Ardeu em febre, fez bolo de banana, fez brigadeiro, fez charminho, paquerou meninos e meninas e foi correspondido. Assumiu-se “bi”. Mas sempre dizia: Se me chamarem de “BI-CHA”, eu respondo!
Aprendeu todas as línguas do universo, e ainda inventou umas duas ou três, só de sacanagem!
Tomou cerveja com gelo, cachaça ice, chá de cogumelo light, suco verde, usou maquiagem, engoliu bala, descobriu o Brasil, apertou a mão da rainha da Inglaterra, chorou… E ainda pensa em realizar todos os sonhos que alguém que é amado pode realizar.
Fez amigos, brigou com alguns, ficou comigo, transou com todos, perdoou e foi perdoado.
Viajou para o Nordeste, conheceu um velho índio peruano; poliglota, bem dotado; nascido em Londres, convenceu-o a mudar-se para o Amazonas, deu um “Boa noite Cinderela” com Santo Daime no gringo, pagou-lhe um “bolete” e casou-se com ele. “Quer bolete?! Toma! Toma!”
Fugiu de uma onça, deu de cara com uma jiboia, escapou de um rio de piranhas, saltou de asa delta, mergulhou em Fernando de Noronha, comprou um barco e foi viver de pesca.
Brigou com a mãe, saiu de casa, ficou sem grana, pediu para voltar, passou num concurso público, e em outro, e em outro, e foi recebido com um abraço.
Namorou a menina mais bonita da escola, foi traído, e se apaixonou pela amante lésbica da “vovó shortinho” (a avó dele era piriguete!!!). E ao invés de 'eu te amo', ele dizia: Palhaçada, hein!
Formou-se em microbiologia, passou férias em Cabo Frio e foi estudar aviação em São José dos Campos. Entrou na Nossa Caixa, saiu. Entrou na Caixa Econômica Federal, saiu. Passou em mais um concurso público e tornou-se controlador de voo. Nos últimos dez segundos viu cair apenas, um helicóptero de brinquedo, duas geladeiras amarelas, oito balões coloridos, três jatinhos vermelhos, meio Boing, cinco estrelas cadentes, um disco voador e alguns ultra-leves bobos. Atualmente, pasmem!, é o responsável pelo fim do caos aéreo tupiniquim. Ai de mim!
Embarcou no sonho da casa própria — “Minha Dívida, Minha VIDA” — quis morar num trailer naquele camping lá do Recreio dos Bandeirantes, pisou no rabo do gato, entrou pelo cano, saiu do armário, foi parar na geladeira, deixou o Maracanã, passou uns tempos na casa do Dudu e foi viver em Guaratiba. Sem querer fazer um trocadilho, mas já fazendo… Ele é de uma família que adora aquela coisa feita de papel, metal ou plástico, usada para comprar “coisas gostosinhas”. E embora nunca tenha sido “filhinho de papai”, cá entre nós, é um ser humano tão emblemático; afeito a trocar à forma pelo conteúdo, revelando-se um perfeito “filho da mãe”.
Como bom libriano que é, capaz de mudar de ideia num átimo de segundo, pensou em pilotar uma Scooter, digo Mobilete, digo lambreta, digo moto-táxi, digo Tuc Tuc, digo Harley Davidson, digo “o calhambeque do Rei”, digo Bugre com motor de Alfa Romeu, digo Mercedes sport, digo Limousine branca, digo Ferrari vermelha, digo o carro da Penélope Charmosa, o possante do Batman, o avião invisível da Mulher Maravilha ou o New Beetle conversível da Barbie. Se Meu Fusca Falasse, diria: Lata-velha, diria bicicleta, diria patins, patinete, diria skate e diria ski, ou quem sabe pernas de pau ou pernas de siri. Ufa!
Saiu do mundo das idéias enfim, amando ao mesmo tempo a todos e a cada um. Abandonou tudo, fez a louca, deu o “Dum Dum”, e foi balançar o esqueleto no “Rebolation” do Parangolé, com muita ginga e muito axé.
Entrou para a igreja do Papa, fez voto de castidade, pulou o muro do convento, saiu no Carmelitas e só voltou na quarta-feira de cinzas. No Cordão da Bola Preta tomou uma água de coco e cento e cinquenta Itaipavas. Beijou um “cadinho” na Banda de Ipanema, um “tantão” no Boi Tatá, um bocado no Gigantes da Lira… E se no carnaval ninguém é de ninguém, ele era de todo mundo! Assim, depois de ver a Mangueira entrar três vezes, saiu gritando para o “Monobloco”, que no “Suvaco do Cristo”, “Simpatia é Quase Amor”.
Aprendeu a falar inglês com uma russa-coreana que achava quase impossível conjugar o verbo to be sem gaguejar. Montou um hostal na sala de casa e começou a hospedar gente do mundo todo entre o sofá e a mesa de centro. Virou corretor imobiliário e vendeu o Cristo Redentor para um gringo. Casou-se com uma transsexual numa rave em Berlim e até hoje não entende porque o dela é maior que o dele.
Praticou tanto sexo tântrico com seu ursinho de pelúcia rosa-chiclete em Burkina Faso, àquele em que se fica até trezentos e sessenta e cinco dias sem gozar, que alcançou o orgasmo em cinco minutos. Realizou a união estável entre indivíduos do mesmo sexo numa “bolacha-quebrada” em Salvador, e adotou dois DJ’s, um pirulito de framboesa, quatro soldadinhos de chumbo, um picolé de macaúba, oito poodles toy, um proctologista do Elton John, um gato vira-lata, uma cadela-Laika, cinco bolinhas de gude, um vinil do Village People, um halterofilista Emo, um vibrador do Ricky Martin, uma boneca inflável da Lady Gaga, uma mecha de cabelo da Madonna, uma go-go boy com o bronzeado da Beyoncé, e um pôster do Freddy Krueger autografado pelo boneco Chuck, comprado num brechó da Lapa. Credo!
Entrou para a escola de circo e virou malabarista. Reencontrou uma amiga de infância que havia se tornado bailarina e transformou-a em fada.
A última vez que o viram, estava com ela: Amado, feliz, celebrando a própria vida na calda de uma estrela cadente. Desapareceu dos olhos da humanidade num velho arco-íris desbotado.
Moral da história:
Vá ao teto do mundo e veja tudo do alto do seu interior. Mas não caia das nuvens.
O verdadeiro sentido da vida é viver.
Eu tenho um sonho…
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Encantador esse conto. Esse seu Mago levou-me às lágrimas. Beijos!
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