MADRUGADA OU SONETO PARA UM AMOR MORRIDO




Eu quero dizer que não quero tuas mentiras nunca mais. Eu quero dizer que se me amas, meu amor, teu amor nunca mais. Eu quero dizer que te desejo, mas lamento, meu desejo nunca mais. Eu quero dizer que te esqueci, boto-me no teu coração para poder te amar, te amo, meu amor nunca mais.

Estou bêbado, inquieto, deprimido. Uma lágrima corre pelo meu rosto — como uma fuga. A muito que eu precisava chorar. Tenho que desabafar. Botar para fora toda a mágoa que está presa no meu peito. E pensar.

Muitas horas, quando procuramos os falsos amigos, eles somem. Um ombro é sempre um ombro. E nos momentos depressivos, o abraço forte, sincero, é capaz de operar milagres.

Madrugada. Tem sido um martírio. Não tenho sono. Não tenho com quem conversar. Saio pelas ruas, sento na calçada, vejo os casais enamorados, sonhando acordados, relembro músicas marcantes, inesquecíveis, converso com a lua, e volto para casa com o coração afogado em tristes lembranças, fazendo do travesseiro: minha tábua oculta de salvação.

Eu não quero um grande amor. Quero um amor verdadeiro. Porque a razão me ensinou que na vida não é o que tenho que importa. Mas quem eu sou de verdade. Cansei do seu falso amor: caríssimo amor. Sim, você está certa: não sou uma pessoa bem relacionada. Você só esqueceu de uma coisa: sou influente. Sim, todos fazem o que eu quero, do jeito que eu quero, da melhor forma possível, do jeito que eu mando. Inclusive você. Na vida só errei quando me apaixonei, querida. Amor deletado! Insensível, não é? É assim que eu sou. Um homem meio aliche, meio mussarela, que nunca ficou com a cara exposta na janela: vendo a banda passar. Acesso e decesso. Pré-texto. Pró-texto. Pretexto. Protesto!  

E sem essa de dizer que sou ambicioso. Foi você que me fez assim, querida. Já que é para pôr rótulo, então bote em mim! Eu sei viver também com isso. E chega desse assunto! Identifico-me com o céu. Ele parece tão só. Somos parecidos em alguma coisa... Talvez em tudo. Mas o que mais nos aproxima é essa nostalgia frígida: gélida. É como se a distância que nos separa, nos aproximasse ainda mais. Por isso que a escuridão do universo me atrai. Porque sei que em algum lugar do infinito há luz. E nem o poeta saberá explicar esse vazio que nos aproxima e nos separa. Sobretudo, a cumplicidade entre nós é muito mais complexa e bela que o nascer de uma estrela. Ou, de um bomba atômica.

Madrugada é essa certeza burra de pensar que a bebida apaga meus problemas. Não apaga. Mas é mágica: contraditória. E mesmo voltando ao erro, compreendo que essa busca pela felicidade é que faz-me acreditar que não vivo um flashback. Vale a pena ser feliz: mesmo que seja por um segundo. Pois se preciso for, viverei sonhando e buscando o conceito e a definição do verbo amar. No dia que encontrar, não mais viverei em função de sonhos. A realidade já terá batido à minha porta e não pensarei duas vezes antes de deixá-la entrar. Tudo será diferente. Nas madrugadas, minha estrela vai brilhar. E a partir deste dia: o céu perderá o seu companheiro das desilusões.

Amar é o exercício da liberdade. O amor não é um analgésico. E nem um paliativo. E nem um anestésico. O amor é dor de dente, é nevralgia, é o transplante de uma amputação. O amor é sentimento que se sente  quando se está dormente. O amor é uma oração, um sermão, a fé comungada com tesão. Amor é gozo. Amor é orgasmo. Amor é dedicação. 

O que é o amor? Não sei, não. Só sei que o amor está vivo no meu coração.

O amor não é senão, a superfície mais profunda, e menos densa, da solidão.

Bandeira. “Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero. Na cama que escolherei”. Manuel. 


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