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Arranquei as cordas vocais com um grito: Ahhhhhhhhhhhhhhh! Pensava estar só e Ninguém me ouviu. Ninguém me disse que falo tudo na primeira pessoa: Engana-se. Nada aqui é autobiográfico! Falo dos sentimentos humanos. Portanto posso fazer a sua biografia na primeira pessoa do presente do indicativo. Ou do subjuntivo. Tanto faz... Não gosto de gerúndios! Sou antropofágico em prosa e verso. Mesmo não sendo você, posso escrever sobre você e sobre a alma do mundo. E deixar uma pista falsa para Ninguém decifrar. Acredito que o que sinto pode emocionar alguém lá na Ásia. Porque tanto eles como nós,  temos sentimentos retorcidos. Cada um sente a sua maneira. E nem preciso atravessar o planeta para concluir isso. A observação e o bom senso são a minha retórica. Todo ser humano é um pouco conquistador. Mesmo que seja o conquistador de si mesmo.


Escrevo cartas que coloco em garrafas de cristal colorido. Correspondo-me com quem o mar me trouxer. Vou até aonde o oceano; minha garrafa levar. Escrevo cartas para ninguém ler.

Ninguém... Como gostaria que me ouvisses! Fiz sonetos para ti. Dancei num parangolé desvairado vestido num pano de Oiticica. Rasguei o peito com uma navalha. Arranquei o coração e joguei no asfalto para te impressionar. Não adiantou... Ninguém viu.

Sou um homem pirotécnico. Pego fogo com a maior facilidade. Ardo em febre. Tenho a temperatura do sol. Por isso meu termômetro é feito sob medida: Quarenta graus à sombra de um coqueiro em Morro de São Paulo. Estou pronto para incendiar-te de amor. Mas sou tímido... Não quero que ninguém me veja dizer: EU TE AMO.  Por isso gravo tudo em vídeo... Depois apago. Faço um curta-metragem. Escrevo-o em todos os festivais. E espero o resultado... Sei que Ninguém vai gostar. Estou num caminho sem volta. Apaixonei-me por alguém que Ninguém conhece. Mas alguém me disse, que todo mundo sabe, que Ninguém me ama. Não quero ser libertado desse amor. Vou viver sentindo o amor por Ninguém; agarrando-me em seus calcanhares. Vou me pendurar na barra da sua saia. Arrastar-me grudado em sujas alpercatas de vime. E se Ninguém me pisar, deito no chão feito um tapete vermelho,  para o mundo passar em cima de mim.

Ninguém me ama. Ninguém me quer. Ninguém me chama de Tom Zé. Por isso em nome do amor, venderei minh'alma para comprar buganvílias para Ninguém ver. Faço isso porque Ninguém é minha alma gêmea. Ninguém é minha cara-metade. Ninguém.

Ninguém de perto é só sal. Às vezes também é açúcar. Por você, Ninguém, sou capaz de caminhar sobre as águas. De acreditar em milagres. De flutuar no ar. Por você; vou até o fim do mundo. Caminharia até aonde Judas perdeu as botas, só para vestí-las em você. Mas tudo isso que faço: Ninguém merece! E merece muito mais... Muito menos. Dar-te-ei minha galharufa para que com ela brilhes no palco da vida. Dar-te-ei minha estrela para que com ela brilhes mais que a luz do sol. Farei de ti a mais estelar das estrelas: A estrela mais brilhante da constelação que Ninguém viu. O tempo passa. Você passa.  Eles passam... Todos passam. Quanto a mim, passo a vida compondo hinos de amor para Ninguém ouvir.

Ninguém diz que sou tribalista. Tropicalista, não sou. Ninguém diz que sou Jovem Guarda, Bossa Nova ou Rock and roll. Sou um homem muito romântico... Mas ninguém deseja casar-se comigo. Ninguém me admira. Ninguém cuida de mim. Ninguém me escuta. Ninguém me vê. Ninguém sente o que eu sinto. Ninguém acredita em mim. Ninguém me gosta. Ninguém me respeita. Ninguém sonha comigo. Ninguém me sente tesão. Ninguém me entende. Ninguém.


Ninguém coleciona os meus vinis de brazilian funk music. Ninguém me acha bonito. Ninguém sabe que namorei a Monalisa. Ninguém acredita que tenho cinco bonecas infláveis da Lady Gaga. Ninguém colocaria as mãos no fogo por mim. Ninguém passa férias na Bósnia. Ninguém jura que só fala a verdade. Ninguém assume que toma viagra. Ninguém detesta feriado. Ninguém gosta de passar pela Faixa de Gaza. Ninguém.

Ninguém me leva café na cama. Ninguém me inspira a crescer. Ninguém quer que eu faça pós-graduação em malandragem. Ninguém quer me ver rico. Ninguém quer que eu passe num concurso público. Ninguém sonha em me ver na TV. Ninguém me acha bom caráter. Ninguém diz que só teria filhos comigo se eles prometessem ser a cara do pai.

Ninguém me segue no Twitter. Ninguém me adiciona na Orkut. Ninguém me manda scraps no Facebook. Ninguém me chama no MSN. Ninguém aparece no Skype. Ninguém me manda um e-mail. Ninguém visita meu blog. Ninguém mais usa ICQ. Ninguém entende meu Fotolog. Ninguém assiste meu vídeo no Youtube. Ninguém gosta do meu Myspace. Ninguém me manda SMS. Ninguém passa a mão na minha banda larga. Ninguém. Ninguém tem o single de Love Profusion da Madonna. Ninguém é cover da Latoya Jackson. Ninguém canta melhor que a Tati Quebra Barraco. Ninguém gosta de pipoca doce com sal. Ninguém é sósia da Beyoncé. Ninguém é fã do Iron Maiden. Ninguém grava o que faz na cama. Ninguém assiste ao Big Brother. Ninguém gosta de comer ração canina. Ninguém sabe que tenho todos os filmes do Zé do Caixão. Ninguém gosta quando eu canto Fado. Ninguém me toca com paixão. Ninguém me olha nos olhos. Ninguém me aguenta mais que dez minutos no colo. Ninguém toca guitarra melhor que o Carlos Santana. Ninguém me dá presente no natal. Ninguém me leva a sério. Ontem fiz aniversário; Ninguém ligou. Ninguém me acha abstrato. Ninguém me acha concreto. Ninguém me manda bombons envenenados no Dia dos Namorados. Ninguém toma um porre por mim. Ninguém morre de cirrose por mim... Ai de mim! Por mim; ninguém morreria.

Ninguém me acha inteligente. Ninguém diz que sou um asno. Ninguém me convida para sair. Ninguém me acha parecido com o Brad Pitt. Embora, Ninguém diga, sou a cara do Tom Cruise. Ninguém diz que sou intelectual. Ninguém consegue me fazer gozar. Logo eu, que tenho orgasmos até com a comida. Ninguém gosta de música clássica. Ninguém me admira por eu ser poliglota. Ninguém diz que sou bem dotado. Ninguém gosta de ensopado de jiló com quiabo. Ninguém gosta de novela mexicana. Ninguém gosta de  Pink Floyd. Mas o que Ninguém gosta mesmo é de matar aula. E isso não é crime. Mas se fosse parar na cadeira por isso, qual seria o veredicto do juri? Ninguém acha que o culpado é inocente.


Ninguém gosta de morder minha orelha. Ninguém me acha sarado. Ninguém me faz massagem erótica dentro de quatro paredes. Ninguém me dá beijos de língua. Ninguém tem atitude com uma arma na cabeça. Ninguém diz que sente falta de mim. Ninguém “toca uma” pensando em mim debaixo do chuveiro. Ninguém... Se eu não existisse, Ninguém me inventaria. Ninguém merece... Se as coisas continuarem assim, no próximo carnaval vou sair pelado, – no bloco do Eu Sozinho.

Ninguém fez de mim um homem feliz. Ninguém aprendeu a me amar. Por isso Ninguém envelhecerá ao meu lado. Jamais viverei a história de dois velhinhos e suas dentaduras cor-de-rosa, sentados numa casa ajardinada com papagaios de louça na varanda, ao som de beija-flores de plástico. Ninguém viverá comigo até o final dos meus dias... Até conquistarmos bisnetos... Até fazermos bodas de titânio... Até completarmos à Idade da Pedra... Até a festa acabar.


Portanto, tudo que eu faço: 
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