SOCIEDADE DOS POETAS NEGROS







Meu mundo é muito pequeno. Meu pequeno lago. Meu lago é meu mundo. E eu sou pequeno.


Os poetas estavam parados no meio da nave. Mas não tinham ido ali para rezar. E intimamente susurravam:

"Nós perdemos o fio da meada. Os filhotes da ninhada. E com frio não previmos a geada. Tentamos fazer um círculo sem compasso, e ele saiu torto...".

Desde tempos imemoriais – as suas vidas eram uma oração. E do interior vinham palavras que perdiam-se no silêncio:

"Se vocês querem viver o sonho – antes vão ter que espiar o pesadelo..."

As suas bases estavam em ruínas. E a sua raça tinha sido tombada pelo patrimônio histórico. Farrapos de um povo movido pelo cadafausto. Nas correias da chibata, souberam superar o próprio destino. E quando não tinham mais esperança, preveram um futuro glorioso, não para eles mesmos – mas para os que viriam a seguir.



Esses homens mágicos foram iluminados pela luz de seu mestre. Aquele que havia fundado a Sociedade dos Poetas Negros, para falar de suas memórias, de suas perdas e conquistas.
O mestre tinha ido além da vaidade para ensinar ao mundo, que o equilíbrio está nas diferenças, que a eternidade é feita em segundos. E que só os românticos percebem isso. Porque sempre esperam mais da vida - do que a vida pode lhes dar.
E encerrava dizendo:
O contrário da paz não é a guerra. É a insignificância injustificável do inominável, que a guerra nos traz. Assim, o mestre mandou que todos fechassem os olhos – e escrevessem juntos a sua história. E de olhos fechados; escreveram: SILÊNCIO.

Seis dias depois de morrer, o mestre sentiu sede. E foi impelido a ressuscitar. A inevitável sensação d'água, o fez sanar, o que parecia inacreditável. Então, levantou-se, e bebeu.
Este era o seu desejo de vida. E mesmo sem entender, viu a chuva cair sobre o seu coração. Nada era capaz de desviá-lo da áqua que emanava das nuvens – sem sol, sem luz, sem aves... Apenas água, nuvens, chuva e céu.

No sétimo dia; chorou. Havia parado de chover. Então, as lágrimas brotaram como água. E docemente, recomeçou a beber. Um pouco de si – vasto, lírico, aguado, avassalador. Era como a águia, que sem ter aonde fazer o ninho, põe seus ovos no topo do edifício. E vive para pôr ovos – renascendo sem saber porquê.
Sem jamais subtrair-se, passou humildemente, sozinho de si. Percebeu que os anos passavam muito rápido. Mas os dias pareciam "infindáveis". Acabou derretido na visão de quatro estações – sendo primavera no verão, inverno no outono... E livre para reconhecer o sol – antes que disesse-lhe adeus. Passados esses anos-diários, lembrou-se que havia reencontrado o milagre. E que se os dias eram tardes, não havia o que pudesse deixá-lo triste. O pôr-do-sol, sempre é a parte mais doce do dia. E de tardes, ele sabia falar.

O mestre era chamado de Anjo Malvado – pois falava a verdade, e esta, ninguém queria escutar. Então, cristalizou-se nas palavras, e nunca mais sentiu sede.
Ele olhou para o céu, e entendeu que não podia tocar as estrelas - porque o céu era muito grande. E elas, as estrelas, distantes. Mas grande, era muito pouco, para expressar-se ao céu. Grande é uma palavra pequena de seis letras. Então, resolveu chamá-lo de infindável. Assim, pareceria maior. E as estrelas que estavam cada vez mais longe, distanciariam-se mais ainda. Porque infindável é enorme. E têm dez letras.

Meu mundo é muito grande. Meu grande oceano. Meu oceano é meu mundo. E eu sou grande.



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Comentários

  1. Carlos Magno Pereira da Silva18 de abril de 2011 às 16:25

    Sempre fico muito feliz quando leio algum texto seu. Você é muito talentoso, meu caro. Muito talentoso.

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