ACIMA DO AMOR E DO MAL











As flores no vaso de plástico enfeitando o piano. Cinco tatuagens caindo sob os body piercings. E a língua oferecendo o gosto de hortelã. Todos os êxtases jogados na cama. E as cordas da velha guitarra  descansando num velho Blues. O sopro vagaroso da gaita. E o céu como espectador dos Yanomamis. Sempre se pode esperar. E nada tem haver com o antes. O dia seguinte sempre é o futuro.

Os velhos no asilo jogando golf. Relembrando os filmes de Sarita Montiel e sua  "La Violetera". E crianças correndo no orfanato, sem saberem que não têm nenhuma casa para voltar. Ninguém esperando no portão. Pois crianças e velhos são órfãos  quando estão sós. E sorriem, apostando no que diz o biscoito da sorte: "Viva e deixe o resto para depois"
Sempre se pode dançar. E mudar de ritmo. O que seria do mundo se todos gostassem de Chemical Brothers?

A viagem do ácido. Techno e Jungle nas pickups. Há pão de mel e chocolate quente no banheiro. A pista está cheia... É melhor andar de skate no corredor. Meninos brancos. Meninas negras. Raio laser e beijo high tech.
Uma nuvem de fumaça artificial leva ao olfato o cheiro do açaí. A Jam pulando corda. Anfetaminas e chiclete astronauta. 
Sempre se pode acordar. É só abrir os olhos e derreter o cobertor. Mesmo não havendo tolerância  sempre se pode existir.

Se não fosse tão difícil dizer  Ya pihi irakema! Juro que falaria mais vezes... Não dá para separar as pessoas como se elas fossem papel moeda. E quanto ao preconceito, você me ensinou que todos são iguais. Portanto, ao invés de temer o que não se conhece  pré-conceituando o que parece diferente. Seria melhor se o mundo tivesse preconceito com a fome, com a guerra, e com a sua própria ignorância. Sem que percebessem, acabariam resolvendo seus medos. E vivendo  acima do Amor e do Mal. 
Sempre se pode voar. É só abrir os braços e abraçar a vida. O dia anterior  não volta mais.

O quadro renascentista na parede. Ao lado do microondas. E livros de filosofia na Biblioteca. A casa pintada no computador. E as portas abrindo-se em arcos, como se fôssemos personagens de HQ. E na verdade  nós somos. Comida congelada fazendo aniversário no freezer. E no carrosel do CD Prayer, Marilyn Manson, jurando ser o anticristo, divide espaço com os Carpenters cantando "Solitaire"  ao lado do Prodigy.
Sempre se pode mudar... Andar de carro conversível na chuva, com a capota abaixada  é bem melhor do que viver a vida tola numa gaiola. Sempre há chuva para tomar. E a água sempre molha o seco.

Fiquei com sede... Vamos subir à Augusta e comer alguma coisa na Paulista. Já são onze horas da manhã... Precisamos dormir. Pensei em tudo que te disse. E como as nossas vidas parecem um vídeo clip. Não tenho idéia das suas limitações. E você nem sabe das minhas. Embora já tenha me visto chorar. Portanto, se te mandarem calar-se  grite o mais alto que puder. Ninguém tem o direito de atropelar a sua liberdade. Registre a sua vida em cinema. E faça um curta. Ligue o projetor. Ajuste a tela. E sente-se no sofá comendo pipoca. Você é a melhor coisa que me aconteceu até hoje. E eu te amo. Sente o calor do meu corpo. E relaxa. Estou contaminado de ti! Temos a vida como estrada. A nossa casa é o nosso reino. E somos os nossos piercings. Nossas tatuagens. Nossa guitarra. Nossos Yanomamis. E nosso vaso de plástico em cima do piano. Temos um ao outro. E somos eternos  enquanto eretos. Até os nossos cabelos ficarem brancos, rugas na face, e cadeiras de balanço gêmeas  em volta da Terra.
Sempre se pode envelhecer. É só ter sonhos para viver. E vida para sonhar.



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Comentários

  1. Raphael Hernandez Zhula9 de outubro de 2010 às 11:26

    Vc merece TODO sucesso do mundo! Parabéns pelo conto lindo! Bjs!

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  2. Conto lindo mesmo! Adorei! Sucesso, Betto! Sucesso!!!

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