ONDE O AMOR NÃO TEM VEZ
Tem dias que sinto-me como um sanduíche com formato de Elvis. E não sei se canto, quebro a pelvis, ou me conformo em ser um alimento feito de massa de farinha de vários cereais, com água e fermento, assado ao forno. Um verdadeiro pão-de-ló sentimental – espantando estranhos para longe do meu ninho. Acho que é isso… Ou, não. Não tenho certeza de nada. Aliás, tenho certeza de tudo. Inclusive, de que se eu deixar, você me come e ainda palita os dentes comigo.
Je suis très désolée... Tenho mais de trinta anos. Não casei. Não tive filhos. Voltei a morar com meus pais e não tenho paz. Ontem você foi embora enquanto me jurava amor eterno. Agora sinto o coração pesado e a alma vazia. Em dias como os de hoje, fico super para baixo – como se não valesse a pena ser alguém, já que não pertenço a ninguém. Momentos assim, sinto-me mais usada que isqueiro na Jamaica. Por isso hoje, acordei fã do Elvis depois do fio-terra. Fria como sanduíche de gelo. Viva. Morta. Muda como uma porta.
Sou uma mulher com as coxas bambas de tanto bater perna em volta de mim. Estou tão triste que poderia comer todo mundo que conheço. Mas não… Vou ficar aqui acariciando-me com essa planta umbelífera de raíz comestível – até deixar os moralistas boquiabertos.
Só tive quatro homens na vida, menino. O primeiro me atropelou. O segundo me jogou no chão. O terceiro passou por cima. E o quarto me jogou fora.
Estou amando o garoto desta foto. E o cara na contra-capa deste disco. Estou amando o que vejo quando olho no espelho. Amo e não faço tipo. Por isso estou amando o presente até o coração fazer bico.
Sua ética lida com conduta. Minha moral lida com costume. E o nosso amor, – eufemismo.
Quero fazer amor e não uma omelete de progesterona com estrogênio. Mas calma… Ninguém beija a minha boca até eu estar mais feliz que a Mary Popins. Até lá, divirta-se! Entretanto, se você gosta de brincar com sentimentos, procurou o brinquedo errado, rapaz. Sou um espírito de carne e osso, querido! Uma mulher com a banda mais larga que a internet, conectada à alma até a veia do pescoço. Uma menina mimada que ainda chupa chupeta. Uma garota que apaga fogo com gasolina. Sou um biscoito fino, rapaz! Não quero ser figurante no filme da minha própria vida. Quero ser feliz fazendo o outro feliz, e assim por diante até o infinito. Por isso assumo que adoro testosterona! Vulgar? Talvez, menino. Posso aceitar isso e meu coração continua aberto.
Gosto de homem que não usa cueca. Gosto de homem que cria o bicho solto. Gosto de homem com cabelo no peito. Gosto de homem que gosta de sexo. Gosto de voz grossa sussurrando grave no meu ouvido. Gosto de falar palavrões, ouvir obscenidades e ser chingada na cama. Gosto de homem que gosta de mulher. E de banana-da-terra goela abaixo. Gosto de amassos no cinema, pula-pula na escada, trepa-trepa no sofá, esconde-esconde pela casa, e de continuar perdida, mesmo depois de ser achada.
Não tenho medo de amar, garoto. Tenho medo de odiar. Porque amar, eu aguento. Amar é coisa que vem de dentro. Odiar vem de fora… Assusta. Às vezes vai e volta. Às vezes volta e entra. Porque não é amor: É sofrimento. Amor é corrigenda. Amor é percepão. O amor resgata no outro o sentimento de ser amado. Quem trata bem quem eu amo, adoça a minha boca. Se estou bem, vou ao amor. Se estou mau, não falto. O rancor, o ciúme, a mágoa, a raiva e a vingança são o ódio distribuindo o veneno e manejando o punhal. Em antítese a este, o amor e o perdão são uma coisa só – como a liberdade frente a escravidão. Amor, eu conheço. Amor é quentinho como xixi. Amor é fisiológico. Ódio, não. Ódio é algo de podre perdido em algum lugar da geladeira. Mágoa só faz mal para a gente mesmo. Amar transcende dele, transcende dela. O amor me fez bela. Odiar, não. Odiar fez de mim – uma cadela.
Acabo de me lembrar de um velho provérbio chinês, que diz: “Se você quer ser feliz por um tempo, vingue-se. Se você quer ser feliz para sempre, perdoe”. Perdoe!
Amor é sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem. E odiar? Odiar é o lugar onde o amor não tem vez.
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A muito tempo que estava precisando ler um conto seu. Li em voz alta. Muito bom ter você entre nós. Somos simples mortais perto do seu talento, amado. God bless you!
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