BALA
— Até parece
que as rosas não falam — disse-me um ancião num velho banco de praça. — E se elas me
dissessem tudo que sentem, eu me transformaria naquela vermelha rosa; que
embora bem menos colorida, jamais deixou de ser rosa.
O moço:
Aproveita o
momento para me humilhar mais uma vez. E me xingar. E me fazer sentir mal.
Impotente. Decadente. Incapaz. Aproveita para me culpar de todos os teus
limites, jogando em mim todas as responsabilidades da tua alma fraca. Em ti não
há orgasmos. Por isso não gozas.
O solteiro:
Confesso que
broxei. Broxei por não compreender a compaixão egoísta do látex. Por não querer
enxergar a sua loucura, perdoei. Por medo de sair de casa, e deixar-te só,
acabei por te ter no pertencimento da solidão, onde ninguém é de ninguém.
O casado:
Alimentei-me
do teu resto, e vi meu mundo de areia e cal, escapar como grãos de areia. A
base da minha dor, de onde exala toda a podridão de nós dois, desfalece-me.
Nossos pecados são muitos. Os meus, por acreditar que tinhas alma, e por
esperar que teu espírito se manifestasse na minha carne crua. E tu pecaste, ao
imaginar que eu; o eterno idiota, esperaria para sempre o diamante azul da tua
bala. Não. Mas, aproveita. Pois quando eu sair por aquela porta, com todos os
meus pertences dentro da mala, para o seu mundinho de borracha jamais voltarei.
Pois contigo aprendi a odiar. E roubar no jogo. E trapacear no amor. Aprendi
também que a sua sujeira impregna na alma, deixando o coração opaco. Porque eu
nem sempre disse que te amava. E tu me ensinaste que não é pelo fato de se
viver com alguém; fazendo juras de amor, que se deve querer que esse alguém; estranho
amado, permaneça vivo ao meu lado.
O
divorciado:
E eu
desejei-te a morte. Acendi velas para ninguém ter o azar de ter o
nome da tua sorte. Fiz vodu para deixar de te amar. Tomei o teu sangue. Rezei.
Fiz milagres para deixar de duvidar. Fiz promessa. Pedi a todos os santos para que
desaparecesses, deixando comigo apenas o vazio da tua ausência. Eu me
sacrifiquei em teu nome, cortei meus pulsos, atirei meus ossos no chão. E
quando o impossível pareceu-me possível, arranquei minhas córneas, para a ti jamais enxergar. Agora, mesmo sem te
ver, eu te ouço. Mesmo sem te ouvir, sinto teu cheiro. Sem ti, nem o bem nem o
mal. Sem ti, não há salgado nem doce. Sem ti, nem biscoito recheado, tampouco água
e sal. Vou-me para tua ausência. Parto para minh’ alma não ficar só.
O psicologizado:
São essas
coisas pequenas e minúsculas do dia a dia ao teu lado, que foram me detonando,
me esvaindo, me deixando sem leite. Seco.
Tornei-me o
assunto predileto do submundo. Acabei em ruínas, implodindo de ódio e amor, de
nojo e torpor, de inveja e azedume, toda vez que gozei em ti. Mas me salvaste a
vida, camisinha.
O longevo:
Até parece
que as rosas não calam… E se eu as dissesse tudo que sinto, elas se transformariam
naquela vermelha rosa, que agora bem mais colorida, — jamais deixou de
ser rosa.
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Muito bom, querido! Betto, você merece todo o sucesso do mundo!!! Parabéns!
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