SANTA CLARA




Os anjos acordaram mais cedo e estavam iluminados. Uma luz que não vinha somente dos raios do sol, mas da alma. Sorriam como um coral, ressoando paz de espírito em todos os cantos. Ajoelhei-me em silêncio, nas pequenas almofadas arrumadas ao redor do salão principal, perto do altar, colocando em prática a crença nas realidades alternativas. Acendi incensos de ópio em adoração e respeito aos Espíritos que me observavam, mas que não podia ver ou ouvir. Entretanto, sabia que estavam lá, no espaço de suas possibilidades. Sorri, feliz de estar ali, vivendo de bem comigo mesmo, cercado por anjos. Fechamos os olhos, fizemos uma oração, entoando alguns Salmos cantados como uma prece. Um clima de amor e paz, lembrando-me os bons tempos vividos por mim nos anos sessenta, com toda a tribo hippie seduzindo e encantando os lumiares do planeta. Fez-me lembrar o som dos Beatles: John Lennon, George Harrison, Ringo Star e Paul McCartney. Recordações de tempos felizes: que estão dentro de mim. Meditamos durante horas, equilibrando respiração e fé, suavizando o pensamento e harmonizando corpo, mente, espírito e Forças Superiores, buscando o contato direito com Deus, o Criador de todas as coisas, e nosso Mestre Supremo.

Sigo as lições do Budismo, sem exagero ou fanatismo. Uso os cabelos curtos, a cabeça quase raspada, por convicção pessoal. Faz parte da plenitude alcançada com o auxílio de canalizadores de transe, curadores espirituais, sensitivos, psíquicos, e boa vontade de assimilar o ocultismo sem julgá-lo estranho, no sentido de pavoroso e irreal. Aprendi a não dar valor a especulações maldosas e insanas. Não somos uma vitrine. Logo não precisamos ser admirados e aceitos. Há muita mais por trás disso. Portanto é necessário crer para aprender. Ser sábio para evoluir. E quando se aprende: jamais se esquece. O caminho fica guardado na memória, em cada célula do corpo, no invólucro semi-material do espírito, na alma. Novas experiências surgem: nos completam. E a verdadeira essência é alcançada.

O relaxamento faz parte da minha vida desde a adolescência. Pratico o Kum Nye, baseado nos ensinamentos tibetanos. Fui além dos votos, da filosofia budista, e encontrei a paz no meu interior. Passei a acreditar mais em mim e nos outros. Passei a ser realista e me permitir sonhar. Passei a manter viva a criança que fui, mondá-la à maturidade da alma, e como um artesão, fazer da matéria minha expressão de arte. O hábito de confiar na intuição e ouvir com atenção meus guias espirituais, fez-me alcançar o sucesso material, a harmonia com o cosmos, e mais uma vez, dançar o som do universo, tornando cada vez mais consciente o Deus que há em mim. Meu perispírito está repleto de Luz, e é ele que me conduz, aos braços do Criador.
  
Tenho aprendido muito nessas incursões no universo d´alma. Seja com Monges Zen, da linhagem budista, ou com os veneráveis amigos, Mestres-discípulos Hare Krishnas. Exercito a busca pela união espiritual e o prazer que sinto por poder crescer entre amigos muito especiais. Os Cinco Mandamentos do Budismo: Amar, este é o mandamento supremo e o primeiro de todos os outros, onde tudo se transforma. Não Matar, induz a preservação à vida, o direito a viver, lembrando mais uma vez a mensagem do Cristo: "Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo". Não roubar, provando que não importa o quanto você tem, mas quem você é de verdade. Não ser promíscuo, exercendo as fronteiras da liberdade, nos limites da percepção humana. Não mentir, provando que a verdade sempre leva ao caminho iluminado, pois se aprende muito abençoando o que se fala. "Tudo o que é dito é escrito como verdade no universo. Então viva, ouça e acredite em si mesmo", – disse-me a voz que vinha do meu interior. Este é o princípio de uma vida plena, abençoada pelos anjos, e toda a linhagem de seres celestiais, que sempre estiveram ao meu lado. Basta-me invocá-los, equilibrando as energias (Terra, água, fogo e ar) nas proporções que o espírito desejar, e ao fazer um pedido, e esperar, a mágica naturalmente se completa.

Quando vim morar na Cidade Luz, estava em busca de ideais profundos. E encontrei aqui o abrigo desejado. Essa sociedade alternativa encrostada ao pés de uma linda colina, formando um vilarejo cercado por casinhas simples de madeira de reflorestamento, uma praça pequena, pessoas felizes, animais saudáveis para a nossa subsistência, e paz: muita paz. Na bagagem, coloquei na mochila algumas roupas e pertences pessoais, um mini-gravador de bolso, minha câmera digital e meus miniDiscs da Janis Joplin. Entre eles, o que mais gosto: "Joplin in Concert". Nos finais de tarde, após um dia de trabalho, sento olhando o horizonte, cruzo as pernas, respiro profundamente, liberto-me de todo o pensamento, e assim, dia após dia, vivo uma existência sem conflitos. Enfim, tudo que sempre desejei: minhas lendas pessoais realizando-se, e o amor, sendo absorvido como fluidos constantes de luz.

"Não há porque deixar de ouvir a sua voz interior", – falou-me o Mestre. "Eu acredito em mim e no que há de melhor no meu interior. Assim como os animais dito irracionais, temos que aprender a respeitar o nosso espaço humano. Tão natural quanto alegorias humanas desfilando à direita de Deus. Há uma razão de ser em cada coisa. Não somos meras surpresas do acaso, nem frutos do coincidências cármicas, pois não existem tais coincidências. Mas consequências. Causa e efeito se precedem. Abrace a vida com intensidade e nada te deterá. Cada um de nós tem um objetivo a cumprir. E não há lugar para o medo, quando se confia nos próprios passos",  – disse-me a voz.

Amanheceu lentamente, como se a vida estivesse plena demais para despertar, e ser um novo dia. Senti-me iluminado, plantando sementes no ar para ver florescer a vida no jardim da alma humana. Citando o incomparável Mário Quintana: "Só está morto quem nunca nasceu". Portanto, não nos podem tirar nada, porque vivemos isto. Sabemos que é real. Por isso se alguém lhe disser que você está morto, lembre-se desta noite. Quem está vivo, já faz parte da eternidade e exerce influência sobre todas as coisas. 

"Como dizemos no teatro: 'Eles tinham que estar aqui para ver como se faz a mágica'. Reencarnar é o ato voluntário de corrigir o passado. E ao renascer, não se esquece o passado por acaso, mas por necessidade de esquecê-lo, para que possamos começar sempre do zero e aprender do nada. A consciência de certos fatos impede o progresso espiritual. Esquecer e aprender, aprender e lembrar, e começar sempre tudo de novo numa época diferente, mas com o mesmo propósito: Amar". Calou-se a voz.

Agradeci à Buda por todos estarem bem. Deus abençoe meu amado Siddhartha Gautama: 'Aquele que sabe'. Aquele que libertando-me do mal de mim mesmo; me iluminou.

Fonte Santa Clara. Um lugar ao sol, transbordando felicidade em águas cristalinas, além das sombras da existência humana, aprendendo a ouvir, ouvindo, e a ser mais um na Casa de Deus. 


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