ENSAIOS

Gostaria de falar dos meus cegos, Penélope. E de como eles ensinaram-me a viver, mudando de vez quem eu era. Comecei a trabalhar com eles como voluntário, assim que cheguei aqui em New York - a capital cultural do universo. O serviço de inclusão social ajudou-me a encontrar uma família. Nada mais justo do que retribuí-los através do meu amor. Querendo ajudar, mesmo sem saber direito como, ficava deslumbrado ao vê-los tocar em minha face e dizerem: “Esse menino será um grande homem. Podemos sentir à sua alma em nossas mãos. A deficiência que desenvolvemos nos olhos, abriu o laço eterno de nossas almas com o vosso coração. E isso é divino. É Deus em gotas. Temos as nossas imagens em lembranças, a maioria de nós não nasceu cego, e cremos na arte da memória. O Brasil só pode ser um país iluminado! Um país capaz de criar seres humanos como você, trará paz ao mundo. Estamos diante de um ser de luz. Você é predestinado a ajudar. Jamais deixe de se doar. É através do amor, que habita na essência do seu ser, que vais descobrir os caminhos da felicidade. Não cobre amor: Seja afeto. Não desanime em vista dos problemas: Crie a sua própria fé. E não espere que os outros massageem seu ego, sendo gratos por tudo que você os fez. Você foi criado na casa dos incapazes. Não espere nada deles. Pois eles não existem. Jogaram-te às feras e fariam pior se pudessem. E podem. Cuidado. Não são a sua família e nunca serão. Apague-os da memória e seja feliz. O passado nós deixamos no passado. O presente, nós mudamos. E o que te faltar no futuro, construa! Os filhos de Deus tudo podem! Você receberá em dobro pelo seu dom. E não se esqueça: Quem te fez o mal e teve a chance de fazer o bem, e não fez, já recebeu a recompensa. Você está vivo. Viva então. Um dia a esperança ressuscitará. Voltarás a sorrir”.

Meus cegos. Jamais deixaria de ouvi-los. Cresci acariciando sonhos, sentindo afeto, aprendendo a ser o amor, recebendo o carinho e a atenção de pessoas que sofreram extremismos, que dariam o direito a qualquer um, de desistir do elo com a própria Divindade. Poderiam virar as costas para o que de melhor pudesse ocorrer em suas vidas. E justamente, essas almas tão sofridas, ensinaram-me que o melhor na vida é ter amigos. Meus cegos ensinaram-me a enxergar. Curando-me da cegueira moral que vendava-me a olhos vistos. Dinheiro fácil, fama comprada, herança maldita, roubada, sucesso de graça, são um blefe. Da vida, só levamos nós mesmo, Penélope. E as nossas almas são valiosamente caras. São nossas almas. Aprendi isso com meus cegos, entende? Vivi anos com transtorno obsessivo compulsivo {T.O.C}. E agora estou aqui Penélope, podendo ajudar de volta. Você sabe o que é isso? Passei anos sem conseguir levantar da cama. Tinha medo de tudo. Sofria de eufemismo. Era incapaz de reagir ao mundo. Agora não tenho medo de nada. Sobrevivi a uma péssima educação familiar, ao lado de pessoas insanas, vingativas, imundas. Sobrevivi Penélope! Por isso ajudo tanto as pessoas. Não posso mais parar. Ajudar agora é a minha vida. Descobri que a minha alma é linda. Sonhadora até os céus. Irriquieta. Levada. Longa. Comprida. Verborrágica. Prolixa. Minha. Na vida não faço planos, Penélope. Vivo cada dia com a intensidade de vinte e quatro horas. Em alguns, atraso o relógio. Em outros, adianto. Se vivo amanhã estiver; amanhã recomeço. Não crio expectativas em mim. Nem as falsas. Nem as verdadeiras. Beijo a vida como ela se apresenta. No máximo, fecho os olhos depois abro. Assim tudo é bem vindo... Graças a Deus. 

Aprendi a ser o equilíbrio. Peso e medida se amoldam. Espírito e luz se atraem. São únicos. Hoje Penélope, exercito o meu estado de ser telúrico. Vivo os ensinamentos tibetanos, a sabedoria do imã, o Dom Coletivo, a Filosofia do Bem Comum, os chakras, a Sociologia do Tempo de Deus – sendo o amor que vibra em mim e nos meus amores. Isso tudo ensinaram-me meus cegos... E eu que achava que estava aqui para ajudar,    mendigo do amor de Deus que sou, acabei  sendo ajudado. Meu Deus... Como viver é lindo, Senhor! Muito obrigado.

Eu era um ser de olhos analfabetos e punhos cerrados. Refletia ensinamentos, mas não sabia ler uma alma sequer. A partir do dia, Penélope, que me vi como deficiente visual, dono de um espírito cego que não se permitia enxergar, passei a ser mais generoso em meus atos. E feliz. Homem de olhos analfabetos e alma cega. Desmistificando velhos fantasmas, sabendo que aquele que procura o que não perdeu, quando encontra, não reconhece. Reconheço-te em mim Penélope, como um pedaço de Deus. Por isso te amo.

Quando criança tive um sonho querida, que me acompanha desde então. No sonho, ouço vozes que vem de uma montanha no Himalaia. Mas não compreendo o que dizem. Muitos monges chegam a mim e oram um mantra: "É difícil ser todos ao mesmo tempo. Então se tiver que escolher, seja você todo o tempo". Nesse momento, acordo. Há mais de dez anos o mesmo sonho. Há mais de dez anos a mesma dúvida. O que isso quer dizer? – me pergunto. Nada. Nenhuma resposta. Nada.

Meus cegos acertaram quando disseram que em algum lugar eu te encontraria. Sigo ao lado deles, com você ao meu lado. Descobri o amor em ti. O amor é um sentimento esquizofrênico – pensava. Uma infinidade de ensaios em matizes, sendo sempre o som que sai do coração. Um amor que parte de ti para mim. De mim para ti. De nossos deficientes visuais para nós. De nós para eles. Nossos cegos... Descobri então o motivo de viver em New York. Amor. Aqui o encontrei. Aqui nos encontramos Penélope. Por isso te amo tanto. O amor é aquilo que se toca com a alma. O tato da alma. O amor é aquilo que vem de dentro. A emoção verdadeira. O imutável de Deus em nós. A verdade que nos liberta. Enfim, amor é um sentimento com nome, sobrenome e pronome. Você. Penélope.

Papai Noel traz coisas materiais. Papai do Céu traz coisas especiais. Feliz Aniversário Senhor Jesus! Feliz Natal, Penélope! Feliz Natal!

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