IMPALPÁVEL




Minha vida é uma colcha de retalhos, cujas bordas, são acabadas em chenile. E onde, em momento algum, achei que viver fosse um passatempo. Não acredito em morte súbita. Acho desnecessário ser tão curta a vida. Mesmo se vivesse mil anos, ainda teria muito que aprender. Por isso sempre volto em busca de mais... A vida é sempre prematura, mesmo que se viva mil anos.

Ser latente enquanto se faz noite. E por profundo desejo de imensidão, disserta-se ao coração, mecanismos impalpáveis. Em mim vive esse alguém que corre tanto, que tão cansado só pensa em correr mais, para um dia talvez – poder descansar sem cansar. Sem correr. Calei-me quando falava do que sentia, porque falar de mim para os outros, me fez encantadoramente só. Foi o mesmo que olhar para o espelho, tentar me ver, e me perder no meu próprio olhar. Não falo mais dos meus desejos. Mas dos seus... Porque se algum dia os tive, era tão pequeno o meu bem querer, que se perdeu de mim, ao esbarrar comigo – nos seus desejos. Ninguém me disse nada que eu já não soubesse. Mas sempre me comportei como se tudo fosse novidade, até perceber, que o que me tocava e que sempre me moveu, foi o desejo arrebatador de estar onde ninguém jamais esteve. Desejo de saborear meus próprios desejos, caminhar com a força do meu próprio tempo. Ainda sou aquele que acredita em contos de fadas, pelo simples desejo de ser – o quer ninguém jamais foi.

Certa feita, ali estava eu, envelhecendo como se não tivesse mais idade. Nem vaidade. Envolto por livros, obcecado pela perfeição, driblando a sorte como um jogador compulsivo. Sou todo “terceira lei de Newton”: Ação e reação. Descobri, e hoje sei que vivi, como se tudo que fizesse fosse maior e melhor que eu. Minhas personagens confundiram-se com os caracóis do meu umbigo. E hoje, aos oitenta e nove anos, experimentei pela derradeira vez, a exatidão de ser eu mesmo. Se ninguém tem nada a dizer, eu tenho. Essa é a maior vantagem de viver muito...Tornar-se esclerosado! Não me importo se alguém vai me ouvir, por isso falo sem parar. Quando se vive demais, cercado de gente, percebe-se que tempo é uma questão de perspectiva. E a minha – senhoras e senhores – é de viver a história até o universo voltar a ser o sopro divinal, os anjos gritarem amém, e tudo que conhecemos não mais existir. Porque quando tudo voltar a ser como antes – eu também erei.

Meus retalhos são uma colcha de vida. Cujas bordas de chenile, nem por um decreto ousariam exprimir-me. No meu paraíso há bombas de gás lacrimogênico, AR-15, pólvora, homens atômicos, canhões e militares declarando guerra. Meu paraíso não é simples, não é calmo, não é certo. No meu paraíso, paz é o que ninguém conhece, mas todo mundo deseja. Por isso aqui no meu paraíso – é preciso sair do amor para ver o amor. Não há nenhum dilema, nenhuma dicotomia, nada existencial... Não gosto de guerra. Meu barato é a paz que a paz traz. O meu raciocínio é muito rápido. Minha língua muito lenta. Ao contrário da mente; mente. Precisa degustar calmamente palavras, palato, paladar – para palavras dar. Certo ou errado, não importa o pecado, não me sinto culpado, é assim que eu sou.  



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