LOCA






Hoje a tristeza pegou-me pelo pé. Era um tal de rio de lágrimas, um aperto no peito, uma vontade incontrolável de chorar. E eu chorei. Chorei por tudo que vivemos. Chorei por tudo que somos. Chorei pelo fato da solidão ser a única que me tolera. E essa dor que me invade os poros é o que tenho de meu. O resto são fatos soltos no ar. Minhas penas jogadas no mar como pétalas de rosas. O risco como um sorriso. O ato como um tato. Restos de mim jogados na lona. Sou eu ali nocauteado por mim mesmo. Perdi todos os rounds desta luta. E agora vem você, completamente louca, me dizer como viver a minha vida. Tire essa coroa de espinhos da minha cabeça. Leve para longe de mim esses pregos enferrujados. Arranque-me dessa cruz. Afaste de mim esse cálice. Negue-me a sua coroa de flores. Recuse-se a me amar desse jeito. Você colou na minha pele todas as suas culpas. A minha sujeira confunde-se com a sua imundície. Você me matou aos poucos, mesmo sabendo que eu só queria viver. Brincou com os meus sentimentos: usou e deitou fora. Seu tiro de misericórdia atingiu-me como uma bomba atômica. Não tive direito ao meu último desejo. Meu pedido seria simples: um copo d’água e um pouco de sal. Mas, não. Ao invés disso, devolveu-me todos os mal sentimentos que havia jogado no lixo. Agora sou um fantoche em suas mãos. Agora sou a sombra de mim mesmo. Mas não por muito tempo. A tristeza que sinto vem da sua loucura. Você é louca! Completamente louca!
   








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