EFÊMERA






Ela vendia sonhos na feira. Chegava cedo, estendia uma toalha no chão, colocava seus potinhos dourados do lado, e fervia como água quente. Quem chegava perto, via uma mulher em chamas. Quem olhava de longe, via um vulcão cuspindo fogo. Seus sonhos vendiam feito alma. Às vezes era preciso voltar em casa três vezes para pegar mais. Não eram sonhos de comer, desses que a gente encontra nas padarias. Eram sonhos de sonhar. Em cada potinho daquele, cabia um desejo. Era só a pessoa abri-lo, olhar bem no fundo dele e desejar qualquer coisa. Ontem comprei um deles. O pote era minúsculo. Mal cabia um olho. Não pude ver o que tinha ali dentro. O que fiz foi desejar. Desejei amor. Desejei amizade. Desejei paz. Cinco minutos depois estava morto. Como não entendi porque tinha morrido, uma voz que veio lá do fundo do potinho, me disse: “Não se deseja essas coisas. Não é assim que se faz. Não peça amor, amizade ou paz. Faça acontecer. Felicidade é coisa que se conquista. Ninguém pede para ser feliz: ou é ou não é. Ser feliz não é obrigação de ninguém. Felicidade é uma questão de escolha. Você merecia uma segunda chance por ser bobo. Merecia se libertar de si mesmo. Mas não permitirei que isso aconteça. Ficará preso aqui dentro, até o potinho quebrar”.  



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