WORKING IN A COALMINE





Ela tinha medo de ficar sozinha no mundo. Não estava preparada para perder. Por isso amarrara o cachorro no pé da mesa. Por isso trancara o marido na cisterna. Por isso prendera o amante no armário. Não quisera ter filhos: com medo de vê-los partir. Não quisera ter empregada: com medo do salário não poder pagar. No dia que seus pais morreram, recusou-se a ir ao velório. Disse que estava com dor de cabeça. Disse que tinha medo de gente que ia para debaixo da terra. Disse que tinha medo de gente que ia para debaixo do chão.

Para afastar o medo da solidão: cuspia no pé três vezes. Primeiro no direito, depois no esquerdo. Dizia que era simpatia. Dizia que o gesto afastava assombração. Com tantos medos e manias: acabara louca. Fora encarcerada no manicômio, e desde então, contamos a soma de seus dias. Desde então: cinco anos se passaram. Nesse meio tempo o marido fugiu da cisterna, o amante destrancou-se do armário, e o cachorro desamarrou-se da mesa. Casaram-se os três: o marido, o amante e o cachorro. Sei que parece estranha esta história. Mas assim o é se não me falha a memória. Uma história de loucos, eu sei. Mas é a pura verdade.

O que houve com ela, eu não sei. Deve estar por aí: batendo palma para maluco dançar.

O que houve com eles, eu também não sei. Mas dizem por aí que foram felizes para sempre.      



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