NE ME QUITTE PAS






Quando se perde um amigo, a gente percebe que perdeu mais do que tinha. A gente perde o caminho para o Outback. A gente perde o rumo de casa. A gente esquece onde é o interior. Fica circundando o mirante, mas não vê a paisagem lá embaixo. Foi assim que me senti no segundo que lhe perdi. Sei que é cedo, mesmo sendo tarde. Pelo avançado da hora: tardíssimo. Mas ainda é cedo, sim. Cedo para dizer o que sinto. Cedo para confessar o quanto foi bom estar ao seu lado. Cedo para dizer adeus. Essa palavra me assusta: adeus. Nunca fui bom em despedidas. E agora estou aqui, abanando o lenço, enquanto o trem parte da estação.

O importante não é o amor, mas o amar. Entendi isso no momento em que você se foi. Quando a gente tem, parece que não valoriza. É como ter um pássaro na mão e desejar os dois que estão voando. Sem você – tornei-me um oceano. Hoje tenho em mim bem menos do que tinha ontem. Mas ainda assim: oceano.   

Quem faz do amigo um lugar comum, já recebeu a sua recompensa. Deixe que o rei pegue o seu prêmio! Pois se viveu, mas não amadureceu, perdeu a oportunidade de doar. Como Dorothy falou-me num sonho: “Não existe lugar como o lar”.


Se amigo é uma alma dentro de dois corpos, como Aristóteles falou, metade de mim foi embora, a outra metade ficou.


Ele era senhor de uma fé inabalável. Dizia que a morte seria a sua carta de alforria. "Uma alma presa ao corpo não é livre, não"  falou. Foi isso que ele me dizia no momento que partia. Ele sabia que existia algo além dele e de mim, que o sustentaria do outra lado da vida.     

"A morte não pode me vencer, amigo. Estou com medo. Mas vou em frente"   ele disse.

"A amizade não se mede pelo tempo cronológico, mas pela veracidade do amor" – concluí.

Foi isso que eu disse quando meu melhor amigo morreu. Falei essas coisas, em frases dispersas, com medo que elas fugissem de mim. Com medo que elas partissem com ele. Então falando como se não falasse, pude dizer tudo que sentia. A perda foi filosófica, eu sei. Mas dói aqui no meu peito. Dói do mesmo jeito. Sei que a alma dos que morrem, parte para algum lugar. Sei que o que fica é o corpo. Sei que o espírito ainda vive. Entretanto, preciso tocar na largura da minha dor. Preciso chorar um pouquinho. Preciso de um abraço apertado. Preciso de uma declaração de amor.

Suas últimas palavras foram:

Eu quero que você seja muito feliz.

Entre lágrimas e soluços, respondi:

Eu sou. Não... Eu vou ser. Não. Eu: você.

Ele fechou os olhos e partiu.



























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