THUNDER ON THE MOUNTAIN





Acabo de me lembrar do dia em que tive um encontro marcado com a morte. Não a minha propriamente dita, porque não estaria aqui escrevendo esta coluna. Mas a morte do meu cachorro. Foi um dia terrível aquele. Foi um dia grifado no calendário com o intuito de esquecer. Mas não deu. A lembrança daquele dia acompanha-me desde então. É como se tivesse sido aberto um espaço no tempo, que de quando em quando vem me visitar. Mas eu fiz o que pude. Contratei o melhor médico. Pelo menos é o que me disseram. Implorei para que salvasse a vida dele. Seria capaz de me ajolhar e jurar por tudo que é mais sagrado, que se algo bom acontecesse com ele, eu seria eternamente grato. Mas não deu. Em  questão de segundos o cachorro estava morto. Naquele momento eu tentei me lembrar de tudo que aprendi na vida. Repassei cada detalhe. Tentei reviver cada minuto bom. Lembrei de coisas que não tinha vivido. Inventei outras que já havia esquecido. A minha vida e a vida do outro valia muito pouco naquele instante. Era como se um pedaço de mim tivesse morrido sem me avisar. Contudo eu continuava vivo sem a menor vontade de estar. Tentei ser forte como sempre faço. Tentei fincar os pés no chão como raízes de uma árvore. Tentei correr parado. Tentei ficar em movimento sem sair do lugar. Mas não deu. Corri o máximo que pude. Pedi chuva a Deus e choveu. Pedi que secassem as minhas lágrimas ou que pelo menos elas se misturassem ao suor. Chorei por todos os poros. Chorei por ele e por mim.

Desde então me despeço dele todos os dias. Desde então me despeço de tudo e de todos diariamente. A sensação que tenho é que aqui dentro algo se quebrou. Falo do vazio que sinto no peito. Falo do grito que parece preso à garganta. E das noites que acordei com febre. Daquelas noites insones em que se procura o que não se perdeu. Eu me encontrei sozinho nestas noites. Pude ver o quanto o passado ainda me revolta. O quanto o que vivi me bate à porta. Eu me tranco dentro de mim e não deixo a tristeza entrar. Falo bem baixinho para a alegria que a eternidade existe. Acredito na vida eterna. Acredito que haja um bom lugar para que nossas almas possam descansar. É para lá que foi o meu cachorro. É para lá que também quero ir quando a minha hora chegar. Por isso me despeço todos os dias desde que meu cachorro se foi. Minha vida tem sido um mar de despedidas. Já enterrei meus amores na mesma cova do meu cachorro. Uma cova existêncial. Um buraco negro. Muita gente que eu amo e amava passou desta para melhor. Acho que foram se encontrar com o meu cachorro por saudade ou por sorte. Todo mundo sabe que a vida neste planeta com nome de terra não é fácil. Todo mundo tenta aceitar a vida e a morte que Deus lhe deu. Todo mundo tenta ser feliz com a urgência de uma tsunami. A vida é assim: um dia atrás do outro com um buraco no meio.     

Acabo de assistir “Marley & Eu”. Passou na TV ainda a pouco. Às vezes me entristece ver que as emissoras de televisão passam sempre os mesmos filmes. É como se houvesse uma cota de tristeza em cada telespectador. Algo que precisasse sair ou dar um pulo lá fora: apenas para gritar. Aí como o grito não vem, a gente liga a TV e espera a hora triste do filme. E ela vem. A tristeza sempre vem. Nesse instante choramos por eles e pelos outros. Choramos por todos e por cada um. Choramos principalmente por nós mesmos. Eu chorei. Chorei copiosamente vendo o mesmo filme. Chorei pela quarta ou quinta vez. Chorei quando li o livro de John Grogan. Chorei quando vi o filme de David Frankel. O roteiro de Scott Frank é excelente. O trabalho da Fox Filmes é impecável. Mas não sou crítico de cinema, muito menos crítico literário. Só posso falar do quanto a história me tocou profundamente. Só posso admitir que chorei, mesmo sabendo que homem não chora. Chorei por Marley e por mim. Chorei por John e por Jenny. Chorei pelo meu cachorro. Chorei pelo mundo inteiro. Chorei por tudo e por todos. Chorei do início ao fim.

A vida é sem sombra de dúvida maravilhosa. Eu tive muitas perdas, eu sei. Mas alguma coisa aqui dentro, me diz que essa dor vai passar. Alguma coisa dentro de mim, eu sei. Tentei esquecer: mas não deu.


        
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