GIRL GONE WILD





Era uma vida madrasta a vida de seu moço. O mesmo acontecia com dona mocinha: seu carrasco. Seu moço e ela eram gêmeos de alma. Sofridos que só, se tivessem nascido da mesma mãe e do mesmo pai, não seriam tão parecidos. Eram farrapos humanos, desprovidos de tudo, entre o não e o nada, entre o quase e o talvez.

Seu moço era aquilo que chamamos lá na minha terra de “pedaço de chão dormente”. É assim que apelidamos quem nasce com o pé nas costas. Não sei explicar o que isso significa. Mas é parecido com burro xucro, arreio frouxo, chão de terra batida, roça seca. Nada em seu moço era certo. Tinha os braços curtos, a mão torta, o rosto cumprido, as costas ocas. Ele era como dor de estômago: incômodo. Era como celeuma de arma: alarma. Sei que é difícil de entender. Contudo ele era assim: parecido com capim verdinho no final de tarde.

Dona mocinha era mais parecida com o impublicável. Andava tortinha como um graveto que acabou de quebrar. Era feito água quando começa a ferver. Tinha o rosto banhado de lágrimas e ninguém nunca soube porque chorava tanto. Acontece que chorava. Chorava de dia e de noite. Chorava de noite e de dia. Às vezes era só alegria. Alegria com uma lágrima no rosto. Alegria com uma lágrima na cara. Não sei o que foi feito dela, não. Acho que sumiu com o bicho papão. Acho que foi embora com a mula sem cabeça. Partiu sem dizer adeus. Não deixou no ar nem o cheiro. Não deixou no chão nem o rastro.

Ela era o carrasco dele. Não sei dizer porquê. Mas toda vez que ele olhava para ela: sofria. Eram tão parecidos que deviam perceber que tinham algo em comum. Quem via de fora não entendia nada. Entretanto, eles que viam de dentro, deviam saber de tudo.

Acontece que era uma vida madrasta a vida de seu moço. O mesmo acontecia com dona mocinha: seu carrasco.    


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