BEMA





A minha alma é um velho sentado à beira de um riacho, fumando um charuto amassado, com os cabelos brancos sendo acariciados pela brisa. O rosto eterno como um sorriso que deixou de existir, mas que transformou-se numa alegria profunda. Eu sou uma velha alma que inspira paz. Um ser abençoado que guarda na sua essência: A Memória Deus. 'A vida está acima de todas as coisas' – penso. Por isso sou um constante catalisador de luz. Jamais perco o rumo. Jamais esqueço de chegar ao centro do Eu. A vida me traz uma sensação constante de que há um elo entre dois mundos. O caminho do meio é sempre o melhor caminho. O imutável suplanta o mutável. Todo bom sentimento me leva a Deus.

Assim planto flores no deserto para ver florescer a vida em todos os cantos. Crio anjos com asas de papel, para convercer o meu anjo-da-guarda, a ficar comigo para sempre. E ele sempre esteve aqui. No meu interior mais profundo. No meu passado mais remoto. No meu futuro mais próximo. Na minha primeira encarnação. E a milênios antes dela. Até mesmo quando eu era somente uma bola de fogo solta no universo, brincando com o infinito e descansando no íntimo das minhas lendas pessoais, – lá estava ele: de braços abertos a me acompanhar.  

Quando fecho os olhos e me concentro, medito e busco a pureza da mente ilimitada, chego a um estágio de levitação tão profundo, que consigo ver a forma do meu Eu Absoluto. Sou a junção de muitas forças, armazenadas numa filosofia de crescimento moral. Não enxergo a vida com os olhos do corpo, mas com a pura verdade dos espíritos que me acompanham a séculos: Minha família espiritual. Graças a ela, envelheci com esperança. Já passei por duas guerras mundiais, enterrei muitos amigos, tive a família carnal dilacerada pelo tempo. Por isso não tenho medo da morte. Saio de uma existência pisada a ferro em brasa, cheia de altos e baixos, para descansar no colo do meu Pai. Não há do que reclamar. Estou velho, entende? Meu corpo parece pinicar, estalar, ranger, gemer, – até mesmo quando estou dormindo. Sou muito velho, sabe? Preciso descansar. Essa dor terrível que sinto no corpo, deve ser a minha alma dizendo que é hora de partir. Mas não vou embora por acaso: Meus espíritos estão me chamando, entende? Sei que devo ir para continuar a viver noutra dimensão deste imenso infinito, que responde pelo nome de eternidade. Afinal, quando se vive cento e vinte e oito anos numa reencarnação maravilhosa, fica claro para o espírito, a hora exata de desencarnar. 'Mais uma etapa chega ao fim' – penso. Para minh'alma avó, a vida não é um mistério. Mas o encontro constante com a essa Energia que chamamos de Deus. Por isso, creio eu, meus filhos e netos do inconsciente, devem estar em espírito, orgulhosos por eu ter resistido com bravura, aos fascínios desse Paraíso das Provações. Sinto-me como uma criança que sorri ao saber, que do outro lado do parque mora um carrossel. Assim deve ser o céu: como um lindo carrossel! Assim há de ser o meu céu, meu Deus: Como um lindo carrossel!

Sinto que chegou a minha hora. Mas, não. Não vou chorar. Pois no meu céu há de ter um lindo carrossel onde eu possa me sentar, e girar, girar, girar. Sim... É o meu céu, sim. E é para lá que quero ir. Até decidir quais serão meus passos futuros: 'Que forma de vida humana me adaptar?' 'Quem serão meus pais, irmãos, amigos e amores?' 'Qual será a minha missão?' 'Que provas hei de cumprir?' 'Virei como anjo-da-guarda de alguém?' 'Ou a sorte sorrirá para mim como um neném?'.

Sim, já é hora de partir. Consultei as estrelas e elas disseram-me que a minha hora chegou. Portanto, encherei o coração de amores e a alma de flores. Pois o amor me levará às alturas, sem que eu precise de asas para voar. Irei atravessar portas, muros e paredes sem sentir medo, dor, frio ou fome. Sim, é hora de partir. A luz é intensa e linda. O túnel é enorme. Não terei dificuldade em atravessar. Fique com Deus.

Há Deus!             










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Comentários

  1. Vitor Marcondes Ferraz15 de julho de 2011 às 14:27

    Fiquei boquiaberto com esse texto, cara. Parabéns!

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  2. Carolina Bittencourt16 de julho de 2011 às 06:55

    Profundo, doce, delicado, genial. Seu texto é tudo de bom, Betto! Bjs!

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