TODO MUNDO ERA MAU




Ele era a relização do sonho de Deus de povoar o mundo com sua imagem e semelhança. Era uma obra-prima. Sabia que cada grão de areia, cada flor, cada animal, cada alma: tudo é Deus. Por isso dizia que o mundo perfeito está onde a gente está. “Por essa razão o paraíso está em toda parte” – completava. Deus o via como um espírito perfeito. Sabia que ele alcançaria o mais alto grau da escala evolutiva. E embora ainda fosse um menino, praticamente um espírito-bebê, amadureceria como todos os outros, chegando à categoria dos Anjos.

Ele não praticava o relativismo moral, aquele que prega a moralidade circunstancial, e diz que os fins justificam os meios. Para ele o que é certo não depende da situação ou do contexto. “Utilitarismo é uma balela: os fins nunca justificam os meios”, – dizia. Achava uma distorção moral, imprimirmos os nossos atos visando apenas os resultados. “Assim o indivíduo pode passar com o trator na cabeça do outro para chegar ao outro lado da rua. Onde fica a ética nisso? Que moral é essa onde é permitido atropelar o outro para conseguir o sucesso? E que sucesso é esse que deprime o ser humano, reduzindo-o a uma mera engrenagem do alpinismo social? Desde quando o dinheiro faz alguém feliz?”.

Ele dizia que só a conduta virtuosa é capaz de levar à verdadeira felicidade. Aquela que independe do tempo ou do lugar. Segundo ele o indivíduo feliz não oscila de humor de acordo com as circunstâncias da vida. É alguém que pratica os princípios universais, fazendo das leis morais o seu alicerse. Portanto, pode fazer frio ou calor, pode não ter um centavo no bolso, pode estar sozinho no mundo, pode ter que comer barro para passar a fome. Mas nada nem ninguém será capaz de tirá-lo do bom caminho. Porque o indivíduo feliz entende que não é a roupa que usa ou o carro que tem, muito menos a casa que mora ou o trabalho que executa, e nem a cor de sua pele, a religião que professa ou a ausência desta, ou a orientação sexual; que dita quem ele é, mas as suas atitudes perante o mundo em que vive.  Pois a felicidade é uma questão de fé. Fé no outro. Fé no mundo. Fé em si mesmo. Por isso ninguém pode ser feliz em cima da infelicidade do outro. Haja vista que a infelicidade do outro também será a nossa. Quem é leviano com um subalterno, certamente o será com seu superior hierárquico: visto que é uma questão de caráter. Um indivíduo oportunista, ou que humilha o outro, ou que se acha superior a quem quer que seja, não tem visto a Deus nem ao próximo. Enxerga apenas a si mesmo. E é de uma miopia moral tão grande, que a imagem que faz de si mesmo é disfocada. Se pudesse ver quem é de verdade, se tivesse o dom de enxergar a própria alma, veria um monstro de sete cabeças.             

Ele ensinava que a virtude é a força que nos move no universo. Sem ela não conseguimos sequer dar um passo na direção do bem. Ficamos estagnados: estacionados no mal de nós mesmos. A vontade guiada pela razão nos impulsiona a praticarmos a boa ação. Caso contrário, agindo por instinto e impulso de ocasião, comportamo-nos como o mais irracional dos seres. A conduta ética é o que norteia os nossos atos. Ninguém pode viver tudo que deseja, mas pode realizar aquilo que quer. Já que faz parte da sua vontade racional. Ele parou para pensar, traçou um plano A, traçou um plano B, lançou mão da dialética, organizou sua meta, pesou os prós e os contras, e entendeu que pelo caminho da ética ninguém prejudica ninguém. Aí é fácil chegar a um objetivo concreto. Porque ele é verdadeiro.

Ele dizia essas coisas com os olhos marejados. Parecia que enquanto falava, estava diante da face de Deus. Era contemplativo sem ser alienado. Era a compaixão levada ao mais alto grau da bondade. Por isso não ficava triste. Por este motivo jamais se aborrecia. Fazia tudo que estivesse ao seu alcance para que todos tivessem aquilo que ele desejava para si mesmo. Porque o indivíduo, seja ele rei ou criado, só é de fato bom naquilo que faz, quando percebe que a vida não se resume à matéria, mas se amplia ao infinito: sem conclusão de curso.

Houve um tempo em que ele achava que todo mundo era mau. Mas mudou de ideia ao perceber que o mal é apenas a ausência temporária do bem.





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