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Contradições à flor da pele:

É difícil falar do amor numa época em que todos estamos correndo atrás do prejuízo. Temos tantos exemplos a seguir, mas nenhum deles se encaixa na nossa vida vazia. Vazia de sentimentos. Vazia de esperança. Vazia de tempo. Vazia de boa vontade. Vazia de doação. Ih, a lista é enorme. O bom e velho individualismo é o mal do século. Pessimista? Não. Realista. Deixa eu reveler uma coisa: O amor não é como receita de bolo. Não adianta colocar um pouco disso, acrescentar um pouco daquilo, e no final jogar fermento por cima. O bolo sempre sola! Amor é outra coisa. E nesse caso, já que estamos falando do amor de um homem por uma mulher, ou de uma mulher por um homem, e quem sabe do amor de um homem por outro homem, ou de uma mulher por outra mulher, temos que parar de usar as velhas fórmulas, e simplesmente relaxar. Mas relaxar mesmo. Não é ligar a TV, colocar uma camiseta surrada, um pijamão velho, uma camisola horrível, uma cueca samba-canção do Bob Esponja, uma calcinha da vovó, uma meia furada ou um chinelão de quinta. É relaxar de verdade. O primeiro passo é desligar a TV. Aliás: não liga a TV! O segundo é esquecer todo o resto. Se tivermos dispostos a viver uma relação duradoura, e isso serve para os solteiros e para os casados, temos que arrancar a máscara social, admitir que embora sejamos biônicos, ainda tem um coração batendo aqui dentro; nos imaginar daqui a trinta anos: gordos(as), solitários(as), debruçado(as) num pacote de biscoitos diet, comendo snacks ligth, e jurando que a vida é bela. Eu prefiro um Dry Martine. Mas tudo bem... Relaxa! Eu menti. Prefiro um Scotch. Enfim, envelhecer sozinho é péssimo. Ver a vida pelos olhos dos outros, pior ainda. Quem disser que a solidão é o máximo, deve visitar um asilo. Não quero isso para mim. Tudo bem que os filhos que eu pretendo ter com a minha futura esposa, podem me mandar para o asilo um dia. Existem monstros em todas as famílias. Sempre achei Rottweilers mais fáceis de educar do que crianças. Mas caso eles me deixem viver a minha senilidade em paz, e caso eu encontre a mulher da minha vida amanhã (antes que o Alzheimer me encontre), porque se demorar muito terei netos ao invés de filhos, vou querer cadeiras de balanço descansando na varanda, o pôr-do-sol como estrada, e o último suspiro ao lado da mulher amada.

E a mulher da minha vida pode ser qualquer uma. Desde a piriguete mais piriguete à centrada mais centrada. Sem preconceitos. Pode ser também meio aliche, meio muçarela: metade piriguete, metade centrada. Está valendo tudo. A vida nos surpreende a cada instante, e quem sou eu para fazer script daquilo que só Deus sabe. Não busco a mulher ideal. Se ela tiver cabeça, corpo e membros já saio no lucro. É claro que gosto de um cérebro pensante. É lógico que um pouco de curvas e beleza exterior não fazem mal a ninguém. À propósito, Shrek e Fiona só ficam lindos no cinema. Ogro por ogro, caso eu mesmo com o espelho. Todavia o que me interessa, piadas à parte, é o lado humano do ser humano. Quero poder conversar com quem amo. Quero poder dizer como é bom estar perto. Quero poder rir de mim mesmo. E se é verdade o que dizem, que uma imagem vale mais que mil palavras, ou uma ação é mais importante que o blá-blá-blá dos apaixonados, quero poder unir o útil ao agradável e viver o lado romântico da vida com tudo que tenho direito. E como bem disse o poetinha: “Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”.              

Feliz Dia dos Namorados.


Soneto de Fidelidade

(Vinicius de Moraes)

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.




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