CHA LÁ LÁ






Escrever para mim é como uma gota de Deus num copo d’água. E há de se respeitar esse Deus e essa palavra que plainam em nós, recortando-nos tal pedaço de papel maleável. Escrever para mim é sagrado. É o que há de mais  bem-aventurado aqui dentro. Por isso nos arredores de mim vive um sábio. De vez em quando ele volta para casa e me conta histórias. Aí eu escrevo. Eu repito o que ele diz simplesmente. Não sou escritor: sou papagaio amestrado. É lógico que eu burilo o que ele fala. É claro que eu escrevo o que quero. Mas o sábio, que é mago; que é monge, é meu mestre. Ele diz: "pula!". Aí eu pulo. Ela manda correr: eu corro. Mas o suor é meu: todo meu. As pernas são minhas. Os cabelos secando ao vento também.

A palavra é o que me movimenta. Quando ouço alguém falar qualquer coisa, desde a mais sábia a mais vulgar, eu paro e rezo. A palavra é e sempre será o meu momento de oração. É nela que repousa o meu espírito. É ela que me dá o direcionamento. A palavra é minha razão de viver. Por isso escrevo. Escrevo para desamarrotar o espírito. Escrevo para ver o que tem do outro lado do rio. Com a palavra meu voo tem a velocidade de um pássaro. Sou mais sensato que Ícaro: minhas asas são espirituais. Não há sol que roube a minha possibilidade de ir e vir. E nisso há o sonho. E aí está a esperança. Porque ao escrever eu vislumbro aquilo que não conheço. Eu toco na alma humana com luvas de borracha. Depois dispo-me de mim mesmo, para poder tocá-la com os dedos nus. A palavra também me aprisiona. Às vezes passo meses lapidando-a até que ela se transforme em pó. Pó de ouro. Pó de alma. Pó de bonança. É desse pó que tiro o meu alimento. Desse pó que presenteio-me a alma. E eu digo alma como matéria viva. Meu lado espiritual mora na natureza. Tudo que se mexe sou eu. Tudo que se revolta, ama e se espanta, está dentro de mim.

Hoje a palavra pegou-me desprevenido. Não tinha papel nem lápis. Não tinha lousa ou giz. Mas como não sou infeliz, descobri em mim o teclado e o computador. Aí foi só ligar a impressora e sair correndo pelo mundo, como um rio que não se contenta em desaguar no mar: quer o oceano.         



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