NO WOMAN NO CRY



Non, femme, aucun cri:

Ela leu em algum lugar que chorar emagrece. Por isso chorava o dia inteiro. Chorava quando estava acordada. Chorava enquanto dormia. Chorava até debaixo do chuveiro. Deixava a água descer pelo ralo, depois fechava a torneira, e chorava até a banheira transbordar. Um dia chorou tanto que fez chover. No outro chorou de soluçar. Dizem que foi ela, e não Noé, que viveu o dilúvio. Ela chorava o tempo todo. Chorava por sofrer de bulimia. Chorava por padecer de anorexia. Chorar era o seu moderador de apetite. Por esta razão chorava descascando cebola. Chorava com cristal japonês. E quando não conseguia chorar: pingava no olho limão. Quando alguém morria, conhecido ou não, ela ia ao velório. Assim que a família consentia, ela se oferecia para ser carpideira. Aí chorava até o olho rachar. Chorava mais que a viúva. Chorava de amarrotar a face do defunto. Dizia sofrer de olho gordo: consequentemente precisava chorar. Sua dor era mais forte que veneno de cobra. Seu sofrimento era mais intenso que picada de saúva. Mas o choro dela não era lágrima de crocodilo, não. Era choro sentido. Vinha dos adentros da alma. Vinha do lado profundo do coração. Ontem ela chorou mais do que de costume. Chorou até desfalecer. Acabou tendo um infarto do miocárdio. Todavia não foi motivo de tristeza, não. Aquilo não era momento para choro nem vela. Muito pelo contrário. Morreu com o sorriso no rosto.

Conclusão: agora que está morta não engorda mais.




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