MOSCA NA SOPA






Tu me amarias se soubesse que eu sou o rato que roeu a roupa do rei de Roma? Se tudo é tão fácil assim, mentiste para mim. Quando me disseste: Pule! Eu pulei. Quando me ordenaste: Vá! Eu lá fui. Quando me mandaste matar, eu matei. Mas não me peça para roubar o teu coração: Pois isso eu não faço. Fizeste de mim: o paradoxo do coma. Dentro do paradoxo é tóxico. Dentro do coma é óxido: ferrugem, gás carbônico e cal. Traga-me um pouco de sal. Traga-me: rosário e água benta. E um pouco de pimenta. Quero um chiclete de menta. A tua fome me alimenta. A tua dor me sustenta. O teu sorriso é doce, mas o teu desprezo me arrebenta. Ver-te sofrer, alivia minh’alma. Ver-te infeliz, adoça minha boca. Tornei-me são e tu ficaste louca. Jure nunca mais abrir-me a boca, coisa ôca! Mas calma. Depois de tudo que me fizeste: Teu amor é inconteste. Sei que não falei quase nada. Sou um pássaro com a asa quebrada. Sou um homem com a alma penada. Penada é minh’alma sem ti. Não sabes nada de mim, mas sei tudo de ti. Se queres me decifrar, leia o meu diário. Se queres saber o significado do que falo, procure no dicionário. Se queres compreender o que digo, coloque uma moeda no umbigo. Se queres saber quem sou, te juro amor, não irás gostar.


  
MOSCA NA SOPA©  copyright by betto barquinn 2011
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Comentários

  1. Muito contemporâneo, Betto! Os seus textos são muito bons! Adorei! Abraços!

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  2. Este texto é o máximo, senhor Betto Barquinn. Não é a toa que acabo de conhecer o blog e já virei fã. Um forte abraço.

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