MA JEUNESSE

Estou feliz. Sim, estou muito feliz. Pensei que viver em Paris seria um tormento, depois da morte dos meus pais. Mas, não. Depois de um ano de sofrimento extremo, reencontrei o meu ponto de equilíbrio. Sair de Marselha foi um passo rumo a mim mesma. Voltar à Cidade Luz, e vir morar aqui no apartamento dos meus pais, com todas essas lembranças, foi um choque. Mas trouxe-me de volta a uma realidade que é minha. Viver numa cidade cosmopolita, cheia de imigrantes, traz-me a sensação que somos todos forasteiros. De alguma forma somos todos órfãos, porque deixamos para trás um pedaço da nossa história. A maioria de nós: por estar em terra estranha. E no meu caso: por ser órfã de mim mesma. Mas sei que eles agora habitam a Casa de Deus. Melhor lugar não há para se morar: um lugar de paz, de luz, longe de todo sofrimento. Por isso de vez em quando choro, mas não navego no mar do meu desterro. Meus pais não iam querer-me triste, depois de dias chuvosos. Estou bem, sim. Amando a mim, cuidando dos que me são caros, velando os que me são raros, vivendo dia após dia, sem ter medo de dizer adeus.  

Hoje lembrei-me que o primeiro livro que li foi, “Polyanna”, de Eleonor H. Porter. Acho que foi ali que decidi ser escritora. Acho que ali decidi ser eu mesma, custe o que custar. O livro é lindo, a história todo mundo conhece, mas o que ninguém sabe é que construí a minha identidade espiritual, através desta obra. Pollyana me trouxe um ar de resignação. Aceitar certas coisas, sem reclamar, passou a ser uma constante em minha vida. Assim foi quando perdi o meu cachorro. Assim foi quando “o gato subiu no telhado”. Assim vem sendo, desde sempre, ao longo de todos os dias da minha biografia. Como assim também foi, quando li “Pollyana Grows Up”. Uma mulher resignada, sim senhor. Mas por favor, deixe-me apresentar: Mademoiselle Jeunesse.

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