BALLET DA CENTOPÉIA
Ela vinha num adágio a três por dois. Disse que estava preparada “á la seconde”. Seus pés estavam “allongé”. Saiu correndo e deu um “ange saut d’”. Ouviu a música e suspirou prestando atenção no “arabesque”. Tinha uma sapatilha branca, que quando caminhava, deixava seu corpo “arrère”. No “demi plié” deu um “assemblé”. Caiu estatelada “á terre”. Com o joelho dobrado, encerrou o ato com “attitude”. Virou-se para a platéia e saiu do palco em “avant en”.
No segundo ato entrou num “pas de valse”. Deu um “ballon” e desceu ao solo com “brás bas”. Saiu correndo e fechou os olhos no meio do “battement frappé”. Plainando no ar deslizou no “batterment glissé”. A platéia chorou ao ver o seu “pas de bourrée. Secamos os olhos e ficamos esperando o seu “cambré”. Mas ela surpreendeu-nos a todos com vários “changementes”. Delirei ao vê-la sorrir enquanto dava um “pas de chat”. Fiquei calmo, depois me assustei ao vê-la gritar no “pas de cheval”. Quis saber o que estava acontecendo, e ela disse que toda vez que se preparava para o “deboulés”, sentia uma fisgada na perna. Mas como toda bailarina experiente, acalmou-se, e correu para o “demi-brás”. E antes do segundo ato terminar, iniciou um “pas de deux”.
Fiquei tão impressionado com o talento dela, que mal prestei atenção no terceiro ato. Dentro de mim: o coração sentindo arrepio. Fora de mim: aquela sensação de déjà vu. Saí do teatro sem conhecê-la. Disseram que quando chegara ao camarim, escorreu na escada e caiu como se fosse um “fouetté”. Morreu ali mesmo. Esse foi o seu último “tombé”.
BALLET DA CENTOPÉIA ™ © copyright by betto barquinn 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
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Impossível não se apaixonar pelo seu talento, Barquinn. Você é uma delícia de escritor. Um artista com uma alma tão grande, que é capaz de criar uma Obra tão intensa. Amo o seu trabalho, Betto. Amo você! Bjs!
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