TU NON MI LASCERAI




Para ele era calça de veludo ou bunda de fora. Oito ou oitenta. Não admitia os meio termos na vida. Se tinha dinheiro, e estava com fome, jantava no restaurante mais caro. Depois passava o resto do mês contando moeda. Um dia ganhou um prêmio de melhor ator. Não foi receber. Disse que o artista tem o direito de dizer não. Por conta disso desistiu da dramaturgia e virou cantor de fado. Descobriu no estilo musical português a sua cara metade. Isso deu-se de tal forma, que mudou-se para a terra de Luís de Camões. Portugal passara a ser para ele a sua segunda casa. E Camões, seu melhor amigo. Lia-o dia e noite. Consumia-o noite e dia.

Certa feita, enquanto apresentava-se numa Casa de Fados, conheceu aquela que seria a mulher da sua vida. Naquela noite conversaram por horas. Ela, uma russa dada à garrafas de vodka. Ele, um italiano mediano, dado a gastar o que tinha e o que não tinha. No final da noite, ovacionado, ele subiu ao palco e cantou mais um fado. Era “Nem às paredes confesso”, letra de Maximiniano de Souza e Artur Ribeiro; música de Ferrer Trindade, — imortalizada na voz de Amália Rodrigues. Era a Lisboa, deste e de outros tempos, passando por ele. O público pediu bis, mas ela estava sozinha à mesa Melhor voltar para o ninho de amor e ficar ao lado daquela que já era a mulher da sua vida. Depois de várias taças do puro vinho português, ele deixou a timidez de lado e a convidou para um passeio no parque. Seria no dia seguinte, mas ele precisava da resposta agora. Afinal, para ele era tudo ou nada. Ela disse que sim. Feliz da vida, ela perguntou se poderia levar uma garrafa de vodka. Ele disse que levasse duas ou três. Seria um dia de comemoração. Então que bebessem até cair.

Se foram feliz para sempre, eu não sei. Só sei que depois daquele encontro, Portugal jamais foi o mesmo. 



Amor é um Fogo que Arde sem se Ver
(Luís Vaz de Camões, in "Sonetos")

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 




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