É LUXO SÓ




Ela sabia que inocência é algo que se conquista após anos de busca. Ninguém nasce inocente. Torna-se inocente à medida que vai vivendo. Alguns enxergam-se mais culpados do que realmente são, porque fizeram da perversidade o seu norte. Vão moldando-se ao que é mais fácil, pegando atalhos, achando que a vida é aquele tapete mágico, que vai levá-los a algum lugar. Ledo engano. Tal tapete não existe. O que nos dá asas está guardado nas profundezas de nós mesmos. E para chegar lá é imprescindível que não se tenha medo de errar. Porque o erro leva ao acerto. Quem não erra já está fadado ao fracasso. Esse, portanto, é o seu maior erro.

Mas ela, que era toda errada, estava liberta de si mesma. Sabia que havia dias ensolarados e noites estreladas dentro daquela caverna existencial que moldava-lhe as tripas. Descobriu-se muitas, então chegara a conclusão, que dentro de si existiam outras vidas. Em uma fora louca. Na outra, freira. Numa dezena delas: homem. Numa centena: mulher. Fora tantos e tantas que cabia nela a humanidade inteira. Era ela a cidade dos mortos. Era ela a representante dos vivos entre os mortos. Era profunda, delicada, caridosa, gentil. Sabia que a felicidade não é coisa de momento. A felicidade real é algo que nos acompanha desde que nascemos, até o momento em que, de lagarta, viramos borboleta. Mas ela sabia que a transformação é dolorosa. Ninguém deixa de ser uma coisa para transformar-se em outra sem sofrer as consequências de suas escolhas. Há de se querer ser borboleta para transformar-se em borboleta. Há de se querer deixar de ser lagarta para se construir um casulo. Ninguém é obrigado a nada. Cada um se molda àquilo que melhor lhe parece. É uma força de atração que aproxima, os que de tão iguais, se confundem.

Ela sabia essas coisas. E sabia outras também. Sabia, inclusive, que por mais longa que seja a estrada, sempre chegamos a algum lugar. Porque já que falamos da força de atração, e de que os iguais se assemelham, então quem melhor se parece conosco do que nós mesmos? Portanto, ela caminhava ao encontro de si mesma. Linda e negra: foi assim que Deus lhe fez.






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