SOLITARY MAN


Eu li uma reportagem que falava de uma jovem que havia colocado à venda a própria virgindade. Aí me perguntei: “o que o dinheiro pode comprar?”. Sempre escrevo sobre assuntos que são universais. E essa ideia de mercado, que diz que todos estamos à venda, me deprime. Não sei o meu preço. Não sei o real valor da minha medida. Mal sei o meu peso em ouro para ser franco. Saber-me mercadoria exposta no mercado é meu desalento. Tenho medo que não me paguem o quanto valho. Mas qual é o meu preço, afinal? Será que valho tanto quanto a virgindade daquela jovem? Ou quem sabe nem chegue perto do que ela pretende receber? Perguntas não me faltam nesta hora de mais absoluta ausência de respostas. Se tivesse ao menos uma, talvez me desse por satisfeito. Mas ciente de quem sou, sabedor de quanto vale a minha poesia, nada que me pusesse preço daria-me mais repúdio. “O que o dinheiro não pode comprar?” — eu pergunto. De certo não compra a minha dignidade. Embora a tenha perdido a tanto tempo, que se a procurasse, não iria encontrar. Não agora. Não debaixo do escombro que me tornei.

Ainda ontem vi um rim à venda. Valia o preço de um apartamento em Manhattan. Um simples, quarto e sala, de fundos para uma rua sem saída. Um lixo. Mas ainda assim um apartamento em Manhattan. Aqui em Nova York tem essas coisas. Acredito que no resto do mundo também. Tudo está à venda. Tudo tem seu preço. Tudo pode ser comprado com alguns míseros dólares. Eu devia ter nascido com uma mala de dinheiro debaixo do braço. Devia ter passado a vida numa poltrona de couro. Devia ter uma história decente para contar. Mas só tenho a minha, que embora valha algum sentimento, ninguém quer pagar o preço de uma vida. Talvez eu deva arcar com a virgindade da jovem. Li que ela quer que a sua primeira vez seja num avião. Mas o que é imoral na Terra será que é aceito no céu? Acho que não. Nem mesmo que esse céu seja feito de nuvem numa turbina de avião. É imoral, sim. É imoral se vender pela internet. É imoral se colocar à venda, seja numa banca de peixe, seja na prateleira do supermercado. É imoral se vender em qualquer lugar: seja pelo preço que for. Eu não tenho mais a minha virgindade. Se perdeu lá pelos meus sei lá quantos anos. Só sei que era jovem. Jovem demais para colocar preço em mim. Mas também não a teria vendido por preço algum. A minha primeira vez foi por amor. E mesmo que a segunda e a terceira tenham sido por puro descontentamento, eu estava lá: de corpo inteiro.

Quanto vale a felicidade ou todas as coisas boas da vida? Talvez uma nota de Euro? Talvez o preço da corrupção? Sei, não. O que sei é que sempre dependi da bondade de estranhos. Quem sabe esse tenha sido o meu instante de procrastinação. Mas nunca me vendi. Se alguém me pagou alguma coisa foi por caridade. Nunca tive dinheiro. O amor é o único que esteve ao meu lado desde o dia que nasci.     




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