TRUE FAITH



Cansei de ser sozinho. Meu roommate casou-se e agora minha vida tornou-se dramática como “O Lago dos Cisnes”. Acordei com uma sensação esquisita. Acordei só. Não namoro a tanto tempo que meu corpo não reconhece o calor de outro corpo. Preciso de um abraço apertado. Preciso dizer: Eu te amo. Preciso de um beijo. Preciso me casar. Quando meu roommate estava aqui, parecia que a solidão era só um pássaro pousado na janela. Demorava para ir embora, mas num estalar de dedos, batia as asas e voava. Agora, não. A casa parece enfumaçada, os móveis sofrem, a vida é um marasmo de dar dó. Se solidão é isso, coitado dos solitários. Perdi a libido. Perdi a vontade de sorrir. Meus dias têm sido chatos. Isso mesmo: chatos. Além do frio que faz em Viena, a ideia de estar só, parece vir acompanhada de um bloco de gelo. Estou vivendo um pesadelo. Espero um dia acordar.

Falando nisso, esta noite tive um sonho. Estava na festa de aniversário do príncipe Siegfried, de “O Lago dos Cisnes”. Havia sido convidado pela rainha, mãe de Siegfried. Ela e eu éramos amantes no sonho. Ela traía o rei comigo, vejam só! Logo eu que detesto ser sozinho, quando durmo, sonho acompanhado. Só eu mesmo para sonhar essas coisas... God!

No baile, a rainha pede ao príncipe que escolha entre as convidadas, aquela que será a sua esposa. O príncipe dança com todas, mas não se interessa por nenhuma. Quando vai levar os último convidados para fora do castelo, Siegfried vê um grupo de cisnes, e enfeitiçado pela beleza dos pássaros, decide caçá-los. Enlouquecido de desejo, monta em seu alazão e cavalga a noite toda, até às margens do lago do bosque. As margens do bosque pertencem ao reino do mago Rothbart: um homem mal. O príncipe não sabe ainda, mas os cisnes que tanto o impressionaram, são na verdade a princesa Odette e suas donzelas. Elas foram enfeitiçadas pelo mago, e só recuperam a aparência humana durante a noite, voltando aos primeiros raios do sol, a tornarem-se cisnes. Como que por magia, Siegfried descobre que a única forma de reverter o feitiço é apaixonar-se por Odette. Aquele que assim o fizesse, de todo o coração, quebraria o encanto. O príncipe, destemido, promete libertar a ‘princesa das cisnes’ e seu séquito. E como garantia: jura amor eterno à Odette. De volta ao castelo, Siegfried recebe a visita de um nobre cavalheiro, acompanhado da filha. O príncipe jura ter visto o rosto da moça em algum lugar, imaginando que poderia ser a sua amada Odette. O nome da moça é Odile. Como as aparências enganam, o nobre cavalheiro não era tão nobre assim. Nem o príncipe nem a rainha percebem, mas quem está ao lado deles, vestido de seda e ouro, é na verdade o mago Rothbart e sua amante: a feiticeira Odile. Convencida de ter encontrado uma donzela à altura do futuro rei, a rainha decide fazer um baile e proclamar ao quatro ventos: ao oriente, ao ocidente, ao norte e ao sul, a felicidade que invadiu o castelo. Toda a corte compareceu, assim como todos os reis e rainhas de todos os cantos da Terra. Odile estava linda no baile. Apareceu com um vestido negro, muito parecido com a plumagem dos cisnes. Vista de longe parecia-se até com Odette, quando esta estava na sua porção Cisne Branco. No final do baile Siegfried proclama que se casará com Odile: O Cisne Negro. O juramento é quebrado. Sem o amor de Siegfried, Odette está condenada a ser cisne para sempre. A princesa fica inconsolável. No ápice do desespero, o príncipe chega a tempo de evitar que Odette morra de tristeza. Os dois conversam por horas e Siegfried explica-lhe que caiu na armadilha de Rothbart, confundindo Odile com Odette. Os dois beijam-se apaixonadamente e a princesa o perdoa. Ao ver que o amor dos dois era imorredouro, Rothbart inunda as margens do lago, fazendo com que Odette e suas donzelas se transformassem em cisnes novamente. Desesperado, Siegfried joga-se no lago para libertar sua amada, mas morre afogado. Naquele instante, tomada de tristeza e dor, Odette morre. Era o final de mais uma história de amor.        

A rainha e eu enterramos os dois, assamos os cisnes, matamos o mago e a feiticeira, aterramos o lago e construímos um shopping, decapitamos o bobo da corte (que não aparece nessa história), envenenamos o rei, e finalmente, nos casamos.

Acordei ao som da Orquestra Sinfônica de Viena, enquanto Rudolf Nureyev e Margot Fonteyn brilhavam no palco ao lado dos bailarinos do Staatsoper, sob a condução do maestro John Lanchbery, e quando me dei conta, George Michael cantava: True Faith.   


A fé verdadeira me diz, que serei feliz: Vou encontrar o amor. Meu roommate encontrou. Eu hei de encontrar.

Moral da história:

Quem não tem cão, caça com gato.



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TRUE FAITH© copyright by Carlos Alberto Pereira dos Santos 2011
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Comentários

  1. Emocionante, Betto. A sua capacidade de encantar, assusta. Rs! E que com facilidade você escreve... As palavras vem com tanta força e ao mesmo tempo com tanta delicada, que a gente lê e relê e não se cansa. Você me deixa emocionada. Sempre! Às vezes venho ao seu blog para relaxar. Mas sempre venho em busca de aprendizado. Você é fundamental nas escolas, nas universidade, nos estudos de filosofia, na televisão, em jornais e revistas. Gostaria de ver um texto seu publicado num livro. Gostaria de ler você no jornal todo dia. Você é maravilhoso, querido. Esse seu "True Faith" é só um milésimo daquilo que você é capaz de escrever. Você é o máximo, rapaz. Parabéns!

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  2. Que delícia de blog, Betto. Acho tão chic vir aqui. E além do seu bom gosto, os textos são um presente para todos nós: leitoras e leitores de Betto Barquinn. Nunca vi tanto talento junto, amado. Você escreve muuuuuuuuuuuuuuito bem! Amo esse blog! Bjs!

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