MISERY






Ele acabara de ler “Miséria da Filosofia” de Karl Marx, antes mesmo de começar a ler “Filosofia da Miséria”, de Pierre-Joseph Proudhon. Trocara os livros e ficara confuso. Tinha algo de sorrateiro no mundo. Tudo era suspeito. ‘Não toque em nada!’ – ele disse. ‘Jamais confie em ninguém’. Sem saber o que fazer: comeu a capa dos livros. O gosto era bom. O de Marx tinha gosto de suspiro. O de Proudhon tinha gosto de bombom. É até uma heresia fazer esse tipo de comparação, mas ele fez. ‘O gosto do primeiro era doce’. ‘O gosto do segundo era bom’. Mas a leitura do primeiro livro, obrigava-lhe, invariavelmente, a ler o segundo. Como estava com pressa: comeu o prefácio dos dois. Como ainda estava com fome, devorou a contra-capa e deixou os tomos para depois. Leu tudo bem rapidinho para o restante comer. Com água empurrou goela abaixo: “Sistema das Contradições ou Filosofia da Miséria”. Já que estava satisfeito de ter lido e comido os dois livros, saboreou-lhes o epílogo, palitou os dentes, apagou a luz e dormiu.  

Esse foi o dia em que o socialismo de Marx comeu o anarquismo de Proudhon e vice-versa. E lá estava: Stephen King, com água na boca, esperando a sobremesa.



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Comentários

  1. Tudo que você escreve é muito bom. Impossível medir o tamanho da sua inteligência. Genial! Acabo de conhecer o seu blog e já virei fã. Um forte abraço!

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  2. Simples e genial. Encantador como sempre. Adorei, querido. Bjs!

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  3. Adorei o texto, meu. Parabéns!

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  4. Tudo que você escreve é um sucesso, Betto. Não é à toa que você é considerado um gênio. Muito bom, rapaz. Deus abençoe. Abs!

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