O RELÓGIO DE AURORA WAGNER






A gente tem o péssimo hábito de reclamar da vida. O ser humano quando nasce, esquece que é filhos de Deus. Temos a eternidade como herança: infinitos como o universo. Todos temos problemas, é verdade. Às vezes acordamos com uma enxaqueca moral: e a vida parece arrastar-se sobre os ombros. Talvez a doença seja o maior entrave da vida. Quando adoecemos, sentimos a vida esvair-se entre os dedos, como grãos de areia numa ampulheta jogada ao mar. A doença moral nos amortece e a saúde espiritual nos fortalece. Tem muitos que só dão valor a vida, quando a vida se esvai. Quando vem a cura, quando o sol finalmente bate a nossa porta, levantamos da cama e saímos correndo em busca do pão nosso de cada dia. E nos esquecemos de agradecer à vida por ela ter sido tão complacente conosco. Diariamente a dádiva de Deus se nos apresenta nas metáforas divinas. Temos amor, temos família, temos braços e pernas, temos amigos, temos olhos que vêem, temos espírito que enxerga, temos filhos, temos netos, temos o amanhã. Com saúde tudo pode dar certo. Com amor tudo é possível. Mas nos apegamos ao impossível. Queremos realizar sonhos que não beneficiam ninguém. Queremos dinheiro pelo valor do dinheiro. Consumimos o outro e a nós mesmos, como se fôssemos enlatados na prateleira do supermercado. Vingamo-nos do outro por qualquer motivo. Odiamos o tempo todo. Punimos o mundo pela nossa falta de bom-senso. Esbravejamos, chingamos, diminuímos, humilhamos,  somos incapazes de perdoar: fazendo do mau agouro o nosso ponto de interseção. Eu não sou tudo que sonho, mas sonho em ser tudo que sou. Vejo em mim todas as faces de Deus. Sei que sou fruto do amor divino. Sei que posso ser melhor do que sou. E o que vejo em mim, enxergo no outro. Por isso o amor é a minha tábua de salvação. Não tenho nada de meu: além de mim. O que a matéria me deu: não me pertence. O corpo morre, a juventude morre, a beleza morre, a paixão morre, as ilusões morrem, e o que sobra sou eu, a eternidade e Deus. O amor pela humanidade solvou-me de uma vida de sentimentos mortos. O amor pela humanidade deu-me a medida exata da fé. Tenho esperança. Acredito no ser humano. Sei que o que é mal passa. Sei que todo bem fica. Sei que se agirmos com solidariedade, sendo fiéis aos nossos bons sentimentos, prestando atenção no que diz a intuição, vivendo com dignidade, abraçaremo-nos uns aos outros, quando chegarmos no céu. Sei que os mortos não morrem. Sei que a vida na Terra é um grão de areia perdido no tempo. Não vou passar uma encarnação sequer, fugindo de mim mesmo. Nasci para me encontrar. Nasci para saber quem sou. Por isso acho bobagem reclamar. Tenho sonhos, tenho asas, tenho saúde, tenho família, tenho amigos, tenho amores, tenho casa, tenho trabalho, tenho talento, tenho comida, tenho água, tenho tudo que a natureza me dá, tenho Deus na alma, esperança no coração: Confio piamente nos desígnios do Criador. E se não tivesse nada disso, sobraria-me a fé. Jó não esmoreceu, porque confiava em Deus. Não sou escravo, não sou senhor, sou apenas o passageiro da vida, embarcado no tempo infinito, que o vento levou.




O Livro de Jó - Estudo sobre sofrimento e fé:























O RELÓGIO DE AURORA WAGNER™ ©  by betto barquinn 2011
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Comentários

  1. Gênio! Adorei, cara! Adorei!

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  2. Você escreve com tanta força, com tanto amor, que é impossível não se emocionar com seu texto. Você escreve sobre temas difíceis. Mergulha de cabeça nos sentimentos humanos e fala o que vem do seu coração. Seus personagens emanam humanidade. Vejo que eles buscam a si mesmos, que procuram ser melhores a cada dia, que erram, que caem, que se levantam. Você tocou o meu coração, caro escritor. Obrigada por ser tão especial, que mesmo não te conhecendo pessoalmente, sou capaz de te considerar um amigo. Afinal, amigos são aqueles que nos ajudam, que tocam a nossa alma. E hoje você me ajudou demais. Obrigada, lindo. Deus abençoe.

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