SE TUDO PODE ACONTECER




Quando ela se viu abandonada pelo marido, jurou por tudo que é mais sagrado, que iria se vingar. E segundo ela, já que vingança é prato que se come frio, a melhor forma de ‘dar o troco’ seria tornar-se uma mulher ‘bem sucedida’. Assim, com dinheiro no bolso, provaria ao mundo o seu valor. E quando ele voltasse com o ‘rabinho entre as pernas’, ouviria um resoluto e retumbante ‘não’. Aí sim, estaria vingada. O que ela não percebeu, é que uma pessoa bem sucedida, é aquela que não se prende à ilusão do mundo a sua volta. Dinheiro é importante, sim. Sei disso. Mas se a realização pessoal tem como base algo que morre com a matéria, fica difícil para o espírito, que é imaterial, se equilibrar nessa prancha de isopor. A verdade é que se o marido foi embora: problema dele. Um dia ele vai descobrir que substituir uma pessoa pela outra é trocar seis por meia dúzia. Ainda mais sendo uma relação sólida, construída arduamente por muitos e muitos anos. Fazer o outro infeliz é o pior investimento do mundo. Porque cedo ou tarde os sinos dobram, e o fragor é ensurdecedor, para ouvidos sensíveis como os nossos. Mas isso ela não via.

Decidida a enriquecer a qualquer custo fez de tudo: trabalhou com moda, redigiu artigo para revista feminina, pintou quadros, foi DJ, escreveu seis livros de autoajuda, lançou um disco compacto que não deu em nada, abriu um restaurante de comida tailandesa, estudou física quântica, foi protagonista de novela mexicana, aprendeu a fazer exercícios de pompoarismo, investiu em cinema, mudou para Hollywood, participou de mais de setenta filmes, gravou um single, e finalmente, depois de dez anos fazendo um pouco de cada coisa, ganhou um “Oscar”, dois “AVN Awards”, dois prêmios “Grammy”, um Nobel e um “Pulitzer”: o que lhe deu prestígio internacional. Nem assim o ex marido voltou. Naquele período ele casou-se três vezes, foi pai de quatro meninas e dois meninos, entregou-se a tantas outras mulheres; pulou de galho em galho até dizer chega. E ela ali: sonhando com o retorno do traste. Um dia desses, quando estava distraída pensando na vida, olhou para os lados, e viu que o amor estava mais próximo do que ela imaginava. Porque o amor sempre está mais perto do que a gente imagina. E ao vê-lo, percebeu que daquele dia em diante, a felicidade criaria morada dentro de si. O pulo do gato é espiritualizar-se. E ela, que era só poesia, espiritualizou. Seguiu viagem com aquele, que a partir daquele dia, estaria sempre ao seu lado. E nunca mais olhou para trás.   

Quando descobriu o amor, trazia um coração tatuado no peito, e uma anotação que dizia: “Não se perca, não se esqueça. Viver bem é a melhor vingança”. Era Caio Fernando Abreu falando por ela.


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