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Tratado sobre a cegueira:

Ele era cego de um olho. Um olho só. Havia perdido a visão por conta da brincadeira de um sujeito pusilânime que jogara-lhe uma pedra. Coisa horrível de contar. O olho que sobrara-lhe não era dos melhores. O outro funcionava mais que esse. Esse era míope. O outro, bom. Mas o outro não estava mais ali. Uma cirurgia cortara o mal pela raiz. Por conta disso, andava com dificuldade. O olho mau, o único que tinha, não era capaz de substituir o que fora arrancado. Mas ele usava uma bengala. Esbarrava aqui e ali; todavia seguia vivendo. Tinha um galo na cabeça. Coisa que adquirira num tombo, por causa do olho ruim. Entretanto, não reclamava da vida. Dizia que se Deus lhe deixara passar por aquilo, tinha motivo de sobra para agradecer. Ele era capaz de enxergar essas coisas. Coisa que o outro não podia.




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