SMILE
Ele vivia fazendo planos para o futuro, mas esquecia-se de viver o presente. Dizia que a única certeza que tinha da vida era que um dia iria morrer. Era uma alma fatalista. Acreditava que tudo estava escrito, o destino manipulava o mundo, e o ser humano tinha um papel passivo no universo. Para quem pensa assim, cruzar os braços e deitar numa cama de pregos, é a melhor opção. Aliás, a única. Tinha um quê de pessimismo no pensamento. Havia algo de podre no reino da Dinamarca. O baixo astral era como viver entre o horrível e o horroroso. Não enxergava o azul do céu. O verde das matas. O colorido da vida. Para ele tudo era preto e branco. Na melhor das hipóteses: desbotado e sem foco. Como um míope da alma via a vida de forma distorcida. Chato viver assim. Desagradável esperar o pior do melhor. Esquecia-se das coisas simples. Por exemplo: Esquecia-se que sempre é época de se plantar uma árvore. Sempre é época de se escrever um livro. Sempre é época de ter um filho ou de adotar um filho. Época de trazer para perto da gente um gato ou um cão. Época de se apaixonar, de descobrir o amor, de amar. Época de sorrir. Época de chorar. Época de tirar aquele velho sonho do baú. Época de realizar aquele desejo guardado no fundo da gaveta. Época de arrumar o guarda-roupa e jogar o passado fora. Época de reformar o armário e abrir espaço para a vida. Época de deixar o sol entrar e iluminar a nossa alma. Época de pedir perdão. Época de perdoar. Época de fazer poesia. Época de pintar um quadro. Época de voltar a estudar. Época de fazer amigos. Época de arrumar um novo trabalho. Época de parar de fumar. Época de parar de beber. Época de aprender a dançar. Época de ler Fernando Pessoa. Época de ouvir o coração. Época de recomeçar.
Há tanta coisa que podemos fazer, não importa a idade do corpo, que se pararmos para pensar, teremos uma agenda cheia até o último segundo de nossas vidas. Época de dizer EU TE AMO é todo dia. Época de fazer o bem é toda hora. Época de ser feliz é sempre. Época de aprender é a vida toda. A vida é simples. Nós é que complicamos o mundo porque temos medo de morrer. A gente deixa de realizar com medo de dar certo. Poderia dar, se tentássemos. E se não der, é apenas um detalhe. Um passo em falso no meio da estrada. Quando se cai, a única saída é levantar. Não é uma questão de pensar, mas de agir. Todo mundo é tão útil quando resolve ser solidário. Todo mundo é inesquecível quando decide amar. “Portanto, mexa-se – pensou”. Ele decidiu mudar, e mudou.
Os anos passaram e o mundo percebeu que ele não envelheceu um segundo. Tornou-se uma alma tão ocupada em realizar sonhos, que os minutos eram tantos, que emperraram o relógio do tempo. Parado, o tempo esqueceu de passar. E ele, descobriu-se tão atarefado, que esqueceu de morrer.
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Alberto Pereira dos Santos 2011
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