VAI DE MADUREIRA
Ela sempre usava umas roupas de procedência duvidosa, que comprava de um fornecedor chinês. Sujeito estranho aquele. Chegava, entregava suas encomendas, e saía sem dar uma palavra. Só recebia em dólar. Só falava mandarim. Nunca soube o nome dele. Todos chamavam-o de “o mascate”, mas ninguém tem esse nome na certidão de nascimento. O mais esquisito é que suas roupas eram cópias quase idênticas de marcas famosas. Não sei como ele fazia aquilo, mas eram perfeitas.
Um dia ela apareceu no salão com uma “quase Louis Vuitton”. As clientes ficaram alvoroçadas. Afinal, não é todo dia que se vê uma bolsa de dois mil dólares andando por aí. Mas como era “quase" uma Louis Vuitton, deve ter custado uns 50 centavos mesmo. Outro dia, ela veio me visitar, usando dos pés à cabeça, nada mais nada menos, que um ‘tayerzinho’ Chanel. Lindo! Quando perguntei onde comprara, lá veio ela falando do chinês: “O mascate” me arrumou essa pechincha por duzentos dólares! Um achado, não é mesmo?” – falou-me, enchendo-me de inveja. “Um achado mesmo”, – respondi –, contrariada. As mercadorias do “mascate” vendiam feito água. Mal chegavam e sumiam em menos de cinco minutos. E não eram só mulheres da periferia que o procuravam, não. Todos os dias, vinham umas madames lá de Nova York, comprar com ele. Eu mesma, que sou anticonsumista, caí na lábia do chinês, e comprei uma bota “quase Guggi”, uma lingerie “quase Victoria's Secret”, um cinto “quase Dolce & Gabbana”, um perfume “quase Cristian Dior”, uma calça “quase Prada”, uma blusa “quase Calvin Klein”, um vestido “quase Valentino”, um relógio de pulso “quase Cartier”, um bracelete “quase Tiffany & Co”, um óculos “quase Diesel”, um casaco “quase Yves Saint Laurent”, uma echarpe “quase Lanvin”, um cinto “quase Marc Jacobs”, um Samsung “quase Emporio Armani”, e um anel “quase H. Stern”.
VAI DE MADUREIRA ™ © copyright by betto barquinn 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN
Comentários
Postar um comentário