ME & MR. JONES






Separação é coisa difícil de aceitar, mesmo quando estamos vivendo o apogeu de nossas vidas. Sair por aí, com a cabeça erguida, depois de termos vivido um grande amor, é coisa difícil de administrar. Quando o amor chega ao fim, fica um gosto amargo na boca. É assim com todo mundo. E comigo não foi diferente. Foram dez anos de felicidade eterna. Cinco anos de afastamento infinito. Quatro anos de solidão mordaz. Ao todo, vivemos dezenove anos juntos. A minha vida resume-se em antes e depois da dor. A dor para mim é meu divisor de águas. Ser mulher em uma sociedade machista e patriarcal, tira a leveza da vida. Tudo parece pesado demais. E o peso que trago nas costas, essa cruz que rasga-me os ombros, esse vazio que invade-me o peito; dilacera-me: revirando-me pelo avesso. Ficar só não é o problema. O problema é não saber por onde recomeçar. A solidão grudou em mim feito chiclete. E eu, que sempre fui fresca, azedei.

Mas como nada acontece por acaso; acordei melhor. Pela manhã, o telefone tocou, e era meu editor convidando-me para um novo livro. Disse que gostaria de me ver radiante. Confidenciou-me que passara recentemente pelo mesmo que eu. Que saíra de um casamento milenar. Aconselhou-me a respeitar o meu calvário. A chorar cada lágrima perdida. Disse-me que deveria viver o meu luto, até o dia que pudesse enterrar o  morto. E que o enterrasse de vez. “Temos que deixar o desencarnado partir” – disse-me ele. “Caso contrário, prendemos a nossa alma a dele. Depois fica difícil saber qual espírito é de quem. Quem ama; liberta. Mesmo estando separado. Liberte que a dor te libertará. Irá embora. Passará”.  Após estas palavras, respirou fundo e desligou. Depois de ouvi-lo, parei de pensar nos meus problemas, respirei fundo e me desliguei.

De hoje em diante escreverei mais livros, abraçarei mais amigos, sairei dessa fossa, e deixarei de lado minha dor de cotovelo.     

Agora sou eu comigo mesma. A partir de hoje, eu e mim mesma, somos nós.







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