CACHORRO LOUCO
Essa vida de motoboy vai acabar me enlouquecendo. Só trabalho para gente maluca. Ontem fui fazer uma entrega para uma doida que encomendou ovos de avestruz. Caríssimos! Ela fez tanta recomendação, disse que tinha que tomar cuidado para não amassar os ovos, não podia quebrar, que chegasse na hora, que tivesse pontualidade britânica, que tomasse conta do sol para não chocá-los... Uma doideira!
Trabalho em uma transportadora que presta serviço para todo tipo de cliente. O produto chega, a equipe especializada confere o pedido, manda para a distribuição, o encarregado envia para o check out, e lá vai o motoboy, que no caso sou eu, entregar aquele bando de quinquilharia. A doida dos ovos de avestruz, que mais parecia “a galinha dos ovos de ouro”, me recebeu aos berros, dizendo que eu me atrasara cinco minutos. A maluco berrava tanto, que eu tive vontade de passar com a moto em cima dela. Daria perda total! Mas em respeito aos “ovos”, os dela e os meus, resolvi pegar leve.
– Senhora, o trânsito está periclitante. Fiquei duas horas em um engarrafamento que dá gosto. Para não atrasar, subi na calçada, atropelei um cachorro, quase derrubei uma velhinha no chão, fiz uma centena de bandalhas, dei um show de barbeiragem, enfiei a moto num poste, e quase fui dessa para melhor. Se eu não tivesse adulterado a placa da ‘magrela’, o guarda tinha me dado uma multa quilométrica. Portanto, senhora, ‘cai de boca nos ovos’, paga a entrega e vaza!
A nojenta ficou louca! Disse que iria fazer queixa para o meu chefe, que nunca mais contrataria os meus serviços, que não queria me ver nem pintado de ouro. Disse três ou quatro palavrões em inglês, saiu cuspindo fogo pelas ventas e bateu a porta na minha cara. Cinco minutos depois, voltou, jogou o dinheiro na calçada, deu de ombros e me mandou tomar ‘naquele lugar’: em português mesmo. Recolhi a grana do chão, trepei na moto, engatei a primeira e sai cantando pneu, rindo da cara da maluca. Mal sabe ela que deixei a moto no sol tanto tempo, que certamente, em um ou dois dias: os avestruzes nascem. Comigo é assim: Escreveu, não leu: zero!
Tem uma infinidade de histórias engraçadas que acontecem lá na firma. Tem a história da mulher que enviou o pênis do marido por malote. Tem a outra que mandou a orelha do amante numa caixa. Tem a do corno que matou a esposa e despachou a infeliz para o inferno. Uma loucura! Mas depois, eu conto. Agora vou dar um banho na ‘magrela’, que essa vida de ‘cachorro louco’ está deixando a ‘bichinha’ nervosa.
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