MAYBE

Ela orgulhava-se de ter ouvido absoluto. Era capaz de ouvir uma folha caindo lá na Mesopotâmia. Mas não conseguia ouvir a própria voz interior. Mesmo surda de si mesma, montou um spa literário, onde tinha a possibilidade  de ir até o lounge, pegar um livro na estante, deitar no recamier, colocar um óculos 6D, e relaxar, ouvindo obras que vão de Sócrates à Anna Akhmatova.

“Quem é você?” – perguntou-me ela. “Eu sou aquele que sempre esteve ao seu lado, tapando as falhas da sua sombra. Sou o livro da sua vida. Aliás, eu sou você amanhã. Somos como Romeu e Julieta. Só que na nossa história, ninguém morre no final”. “Na vida real não é assim”, ela disse: “O mocinho nunca fica com a mocinha”. “Não fale assim”, – respondi. Estamos vivos e  é isso que importa. Cada um tem a sua forma de pensar. Mas por favor, quando falar, olhe dentro dos meus olhos. Anjo não tem costas, mas tem educação”.

O livro é um sentimento sem passado.

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