LA LLORONA

Depois de uma vida dedicada ao materialismo, eis que chega a hora da morte. O agnóstico chora. O ateu chora. O gnóstico chora. O crente chora. Todo mundo chora na hora da morte. 

Depois de uma vida dedicada ao aqui e agora, quem não acredita que a alma sobrevive à morte do corpo também chora. Uma vida sem amor não vale a pena. Uma vida sem perdão não vale nada. Eu choro. Você chora. Todo mundo chora na hora da morte.

Depois de uma vida dedicada ao consumismo, eis que chega a hora da morte. O rico chora. O pobre chora. O preto chora. O branco chora. O amarelo, o azul e o vermelho também. Todo mundo chora na hora da morte. 

Depois de uma vida dedica aos prazeres da carne, eis que chega a hora da morte. O viandante chora. O viajor chora. O Papa. O nobre. O mendigo. O leitor. O escritor. O analfabeto. O boçal. O intelectual. Todo mundo chora na hora da morte.

Depois de uma vida dedicada à “vencer” a qualquer custo, eis que chega a hora da morte. O orgulhoso chora. O humilde chora. O presunçoso chora. O solidário chora. O invejoso chora. O desapegado chora. O odioso chora. O amoroso chora. Todo mundo chora na hora da morte.

Depois  de uma vida dedicada ao espírito, eis que chega a hora da morte. A tartaruga sorri. O coelho sorri. O cachorro. O gato. O elefante. O passarinho. A girafa. O leão. Todo animal sorri na hora da morte. O único bicho que chora quando chega a sua hora é o homem. E agora? Quem é racional? Quem é irracional? O bicho homem sabe menos de si mesmo, e dos desígnios de Deus, que qualquer outro animal. 

O homem chora quando nasce. O homem chora quando morre. Depois dizem que homem não chora. Chora, sim. Eu choro. Tu choras. Ele chora. Nós choramos. Vós chorais. Eles choram. Todo mundo chora na hora da morte.  

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