OPINIÃO






Da janela de Florbela Espanca ouve-se um grito. E lá está Herbert Marcuse caído no chão. Ele foi aquele que viveu sem ter umbigo. Aquele que nasceu de chocadeira. Aquele que cresceu sem mamadeira. Corro até ele, mas já é tarde. Está morto. Morreu. Marcuse atirou-se do parapeito como quem não mamou no peito. A janela fora seu precipício. Seu último pertencimento. Seu único lamento. A rua suja. O sangue quente. O espírito dormente. O asfalto agora é o seu leite. O deleite de folhas mortas. A agunia de dias vivos. O derradeiro sentido da vida fora cair. Descer até não ter mais para onde ir. O desespero. O medo. O desterro. De certo; o incerto. No pleito: o absurdo de nós mesmos. A nossa relação com o mundo: submundo. O essencial é indispensável à alma. A banana que cai do cacho. O frio da neve. O silêncio. O cobertor. O ódio é um lugar distante, sim senhor. Eu acho. Por isso estou me permitindo amar. Mesmo sentindo-me o último do mundo a ter esse direito: Aceito.

O supérfluo saiu para comprar ‘Cup Noodles’ e nunca mais voltou. A minha sensibilidade rejeita a minha racionalidade. Agora sou como Marcuse: Expatriado em terra infértil. Perdido dentro de mim mesmo. Para o mundo capitalista devo ser um desastre. Algo sem pé nem cabeça. Hoje chorei uma caixa de lenço. Chorei o meu lamento. Chorei o meu desprendimento. Nasci de novo em uma caixa de ovo. Nasci no meio do povo. Nasci sem avisar. Nasci amando Florbela Espanca e seu mundo de sonhos e barbitúricos. O ar rarefeito. O sopro no peito. A confusão mental. Joguei-me da janela de Florbela com Marcuse ao meu lado. E agora jaz em mim: O gosto amargo do jasmim.






OPINIÃO ™ ©  copyright by betto barquinn 2011
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ETERNAMENTE ANILZA!

PRESSENTIMENTO

COLOQUE O AMENDOIM NO BURACO DO AMENDOIM