BANDA UM





Muito bom caminhar pela Rive Droite como quem não quer nada. Paris é de fato a minha segunda casa. E Proust, a minha madeleine. Não sei quantas vezes estive aqui. Mas foram muitas. É como se “Em Busca do Tempo Perdido” fizesse parte de minh’alma. Por isso gosto de jogar conversa fora pelo simples prazer do vocábulo. E embora o não dito me impressione bem mais que a palavra oral, o som da tua voz é o prazer que me acarinha os ouvidos. Quando ouço-te, a memória voluntária tenta me dizer quem sou, enquanto a memória involuntária se esconde de mim. Tu és mágica como a Paris dos meus sonhos. Ao teu lado vivi o meu momento da Queda da Bastilha. La Marseillaise tornou-se para mim o hino do meu coração. Escuto-a como escuto-te: com respeito e sobriedade. Deve ser o mal da idade: quanto mais a audição me falta, mais a mente esforça-se para escutar. Assim me sinto quando deslizo pelo Centre Pompidou. Da mesma forma me comporto quando almoço no Ze Kitchen. É mais forte quando degusto-te no terraço do Museu do quai Branly. É al dente quando estou perto de mim mesmo no Les Ombres. És para mim como um objeto de decoração da loja Merci. Estás em todas as vitrines do Marais. Contudo, encontro-te diariamente exposta entre livros; sedenta de mim, esperando-me de braços abertos na Boutique Etat Libre d’Orange.

O que mais me impressiona é saber que Paris guarda o segredo do nosso amor a tantos anos e nunca contou a ninguém. Paris é um túmulo.  



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