STRONGER THAN ME

Ela era um tanto cigana. Mudava-se quantas vezes o seu coração tivesse vontade. Mudava de namorado. Mudava de marido. Teve até uma mulher que a tivera nos braços mais de uma vez. Ela era assim: feita para todos. A única coisa que não abria mão era da sua liberdade. O resto ela dava, emprestava, alugava. Dizia que o seu destino era não ter destino. Se algo saia errado, se aquele lugar não era o seu lugar, enfiava o rabo entre as pernas e saia de fininho. Quando alguém vinha com a proposta de ensiná-la a viver, ela dizia: “Macaco, olha o teu rabo”. Confesso que tive medo dela. Ela me parecia um tanto desnorteada: com um parafuso a menos. Mas um dia deixei de lado o preconceito e olhei para ela com as lentes de contato da alma. Pude até tocar em sua pele. Cheguei tão perto, que senti o cheira de sua alma. Era um aroma doce com um leve toque de limão. Um espírito agridoce, que de estranho não tinha nada. Ela vivia o sentimento como qualquer um. Havia dias que sentia raiva. Havia momentos de solidão e torpor. Contudo, na maioria das vezes, era serena como um copo d’água. Calma como um fim de tarde à beira mar. E lá ia ela com suas ondas batendo, jogando-se na areia como quem não sabe nadar.

Esta manhã ela resolveu criar raízes. Acordou decidida a fazer de mim o seu lar. E eu que nunca pensei que por ela pudesse me apaixonar, estou vendo passarinho verde num lindo céu cor de rosa. O amor é assim, faz de você e de mim, reféns de algo que é bom. E essa mulher, que é única e que é muitas, conquistou-me o corpo e a alma, trazendo-me a calma, que eu jamais imaginei ter.    

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