I SAY A LITTLE PRAYER
Ele vivia reclamando de ter nascido Apolo e não Héracles. Embora Apolo fosse o deus mais amado depois de Zeus, ele não se contentava em ser a luz da verdade. Leto pedia-lhe que não reclamasse tanto da vida, indo importunar o rei dos deuses com suas inquietações. Mas Apolo estava decidido a não ser mais ele mesmo, e foi ao gabinete do pai pedir uma reparação.
O soberano do Monte Olimpo, o deus do céu e do trovão, lógico que o recebeu. Afinal, qual o pai que recusa-se a ouvir o coração de um filho? Chegando à presença do filho de Cronos e Reia, Apolo convence o pai a transformá-lo em Héracles, dizendo:
– Pai, querido governador da Terra, transforma-me em Héracles, pois não estou satisfeito de ser eu mesmo. Héracles é forte, é valente, enfrenta raios, trovões, chuvas e tempestades. Héracles é destemido e deleitoso, capaz de trabalhar dias e noite sem se cansar. Vamos logo com isso! Transforma-me no filho de Alcmena!
Zeus sem dizer uma palavra, atendeu o pedido.
Dias depois, Apolo volta ao Olimpo, revoltado com Zeus:
– Querido e amado pai, aquele que conhece os segredos do céu e da Terra, por que me transformaste neste traste? A vida de Héracles é um desastre. Quando me transferiste para o corpo desse semideuses desalmado, quase morri de susto. Tive que matar o Leão de Nemeia, depois a Hidra de Lerna, e ainda correr mais que a Corça de Cerineia. Quando achei que podia descançar, tive que capturar o Javali de Erimanto, limpar em vinte e quatro horas os currais do rei Aúgias, matar a ave do Lago Estínfalo, vencer o Touro de Creta, castigar Diómedes, vencer as amazonas, matar o gigante Gerião, colher as maçãs de ouro do jardim das Hespérides, invadir o Palácio de Hades, e de lá arrancar o mastim de três cabeças, o guardião do submundo, a quem todos chamamos de Cérbero. Enfim, pai amado, perdoa-me a insatisfação. Quero voltar a ser eu mesmo.
Logo Zeus respondeu:
– Isso é para você aprender a não querer ser o que não é. Vá e não volte a me importunar.
Apolo saiu e nunca mais voltou.
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