A VOZ ROUCA DA CROONER




Ela era encantadoramente chata. Cantava em falsete, esquecia a letra, comia o final das palavras: chata. Apresentava-se em um inferninho de quinta no Chueca. Os frequentadores daquele lugar, juntos, não davam uma pessoa decente. Nem ela era decente. Muito pelo contrário: era indecente. Falava palavrão, fumava enquanto cantava, deixava cair "Toro Loco Tempranillo" na própria roupa. Era um desastre. Quando acabava de cantar, ninguém aplaudia. Às vezes até ameaçavam uma vaia. Em outras: vaiavam. A boate funcionava de domingo a domingo. Sem folga. Sem porta fechada. Aquilo ali era pior que a casa da mãe Joana. Lá também tinha Bingo. Aquele que se marca a ficha com feijão. Não o de máquina. Os clientes usavam amendoim. Ela detestava a hora do Bingo. Dizia que era demais. Aquilo ali era mais que humilhante. "Para sobreviver a gente tem que passar por cada coisa na vida"… "Não vim à Madrid para passar por isso"  avisava. Revoltada, jurou vingar-se. Em uma noite, quando a casa estava superlotada, pôs fogo no palco. Todos correram para a saída de incêndio, mas estava trancada com cadeado. Correram para a porta da rua, e ela estava fechada por fora, com uma barra de ferro. Quando o incêndio atingiu o ponto máximo, ela que estava sentada do outro lado da rua, abriu uma lata de cerveja, acendeu um cigarro, e aplaudiu. O show havia chegado ao fim.


CONTACT BETTO BARQUINN:


A VOZ ROUCA DA CROONER™ © copyright by betto barquinn 2012
TODOS OS DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS BY BETTO BARQUINN

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

GAROTO DE PROGRAMA

ETERNAMENTE ANILZA!

COLOQUE O AMENDOIM NO BURACO DO AMENDOIM