FIM DO DIA



Le vieil homme sur le banc de parc:

Envelhecer é uma dádiva. Ainda mais em um mundo violento, onde as pessoas morrem por qualquer motivo. Passar pela vida sem nenhum arranhão é impossível. Chegar à maturidade da alma é um desafio que a cada um de nós é dado alcançar. Mas o corpo paga o preço. Fica cansado. Perde a mobilidade. O raciocínio não é mais o mesmo. Há uma hora que precisamos de cuidados especiais. É aí que entra a família, filhos e netos, para dar o suporte que necessitamos. Leonardo da Vinci disse que “o conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã”. Sábias palavras! Não é preciso ser um gênio para perceber que a população mundial está envelhecendo. Hoje, com a melhoria da qualidade de vida, ser velho é um fato. Só que o governo, e a população, de um modo geral, não se preparou para isso. Vivemos em uma sociedade que cultua a juventude e deprime a velhice. Na correria em que se vive, e com os projetos ambiciosos de querer mais a cada segundo, envelhecer toma ares de transtorno. Sobre isso, François Chateaubriand enunciou: “Outrora, a velhice era uma dignidade; hoje, ela é um peso”. Pouco se valoriza a experiência de vida de quem já somou vários dígitos à data de nascimento. Esquece-se que os anos passam para todos. Um dia, aquele que não morrer jovem, também chegará lá. Essa é a ideia. 

Pierre Proudhon declarou que “a vida do homem divide-se em cinco períodos: infância, adolescência, mocidade, virilidade e velhice. No primeiro período o homem ama a mulher como mãe; no segundo, como irmã; no terceiro, como amante; no quarto, como esposa; no quinto, como filha”. É a existência interpretando o seu papel… A sociedade ocidental, ao contrário da sociedade oriental, não dá o menor valor ao anoitecer da vida. Por isso que Michel de Montaigne exprimiu que “a velhice faz-nos mais rugas no espírito do que na cara”. O que se tem que entender é que envelhecer não é chegar ao fim da linha. Porque é heteróclito achar que viver não vale nada. O que poucos percebem é que pessoas são importantes em qualquer idade. Como proferiu Carlos Drummond de Andrade: “há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons”. Donde se conclui que todo mundo tem algo a ensinar e algo a aprender. E no caso da velhice, cabe-nos cuidar dos nossos idosos: ouvi-los, amá-los, respeitá-los e ampará-los. É o mínimo que se espera de alguém que foi posto no mundo por outro alguém. Até os animais concernem a velhice alheia. Por que nós, não? 

Sobre a longevidade, Séneca proferiu: “Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.” Por isso é inadmissível esquecer o velho em um canto, trancá-lo em casa, jogá-lo em um asilo que mais parece uma lata de lixo, usar sua aposentadoria em beneficio próprio, não cuidar de sua alimentação, higiene, saúde, esporte e laser. Pois é desumano. Seguindo este raciocínio, Marcel Proust, declarou: “Acontece com a velhice o mesmo que com a morte. Alguns enfrentam-nas com indiferença, não porque tenham mais coragem do que os outros, mas porque têm menos imaginação”. Desta forma, mesmo quando não há saída, o amor é a saída. Amar será sempre o remédio para todos os males: do corpo e do espírito. Os pais que não foram presentes em nossa educação, que nos causaram cicatrizes profundas na alma, que nos abandonaram à própria sorte, até mesmo estes, precisam do nosso apoio. Porque a irresponsabilidade do outro não justifica a nossa. Não se paga na mesma moeda nem a quem nos fez de gato e sapato. Portanto, segundo Jean Jacques Rosseau, “a juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar”. Desse modo, cabe a cada um cumprir o que lhe foi traçado pela vida. Pois não fomos criados para deixar a quem quer que seja desamparado. Ainda mais quem nos pôs no mundo. 

Platão ensinou-nos que “a velhice é um estado de repouso e de liberdade no que respeita aos sentidos. Quando a violência das paixões se relaxa e o seu ardor arrefece, ficamos libertos de uma multidão de furiosos tiranos”. Por isso no dia em que formos menos egoístas, e percebermos que envelhecer é muito mais do que parece ser, a felicidade terá chegado às nossas vidas. Como bem disse Dalai Lama: “Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiura, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente”. Pessoas morrem todos os dias por muito pouco. Valorizemos a vida, e não nos esqueçamos, hoje sãos eles: amanhã, se tivermos sorte, seremos nós.


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