VELHA INFÂNCIA
“Madeira feita de cruz”:
Ele é o tipo de pessoa que vai ao mar e não encontra água. Tem a mão furada. Deixa tudo cair no chão. Mas gosta de livro. Passa horas lendo. Diz que se pudesse moraria numa biblioteca. De Platão à Nélida Piñon: ele processa a mastigação, a deglutição e o peristaltismo. Às vezes passa horas se perguntando: “O que faz uma caneta ser uma caneta e uma árvore ser uma árvore? A cor, o formato, o tamanho? Se o abacateiro não dá figos e a videira não dá tâmaras, o que faz um coqueiro ser um coqueiro? E a ‘Teoria das Ideias’… E a reminiscência… E os ‘diálogos socráticos’… E ‘Tempo das Frutas’, ‘Sala de armas’, ‘O calor das coisas’, ‘O pão de cada dia: fragmentos’… E a vida? E a levedura? E o fermento? Há de se ter amor no coração ou a vingança é o prato que se come frio?” No instante que falava essas coisas, abria um sorriso maior que o mundo. Nunca vi nada igual. Era aquele emaranhado de gente, formando um exército de trinta e dois dentes. É uma pessoa adorável. Foi ele que me ensinou que no céu da boca não há estrelas. Mas no universo, estrelas há.
Ele tem a alma furada. Deixa o mundo cair no chão. Mas gosta do cartapácio. Passa horas percorrendo a letra com a vista; reconhecendo-a como palavra.
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