O BURACO DO ESPELHO
Ela gosta de marzipan no café da manhã. Coisa de menina rica. Uma xícara de chá vai bem também: chocolate e menta. Depois passeia pelas ruas de Túnis com o véu cobrindo-lhe o rosto. Ela é muçulmana. Pratica o Islamismo. Por isso lê o Corão todos os dias. Ela só entra na mesquita descalça e com os joelhos tapados. Quando perguntam-na se é sunita ou xiita, ela desconversa. Não gosta de expor a sua fé fora dos limites do espírito. Isto é entre Allah e ela. Ninguém tem nada a ver com os labirintos de sua alma. Todos os anos vai à Al-Masjid al-Ḥarām orar. É sunita, obviamente. Toda vez, no mês sagrado do Hajj, ela está lá: masbaha na mão; Maomé no coração. Para ela, Meca é um lugar sagrado: aquele que todo muçulmano deve visitar pelo menos uma vez na vida. Saúde ela tem. Condição financeira também. Então, vai. O maior recinto religioso do planeta é a Mesquita Al-Haram. Grande Obra da fé humana edificada em nome da Palavra de Allah. Logo, estando ou não na Arábia Saudita, ela professa e aceita o credo, ora cinco vezes ao longo do dia, paga dádivas rituais, observa as obrigações do Ramadã, e faz a peregrinação à Meca. Esteja na Tunísia, no deserto do Saara, em Al-Masjid al-Nabawi, em Al-Riyad-ul-Jannah, em Rawdah, em minbar, no túmulo de Mohammad, de Abu Bakr, de Umar ibn al-Khattab, no Monte Hira, na Cidade Velha de Jerusalém, no Domo da Rocha, ou em qualquer outra parte do mundo, é assim. Logo, ao olhar as estrelas através de sua janela na África do Norte, agradece a Allah por ter nascido lá. E diz: “Se Allah quisesse, poderia ter feito de nós uma só nação, porém Ele nos põe à prova. Vá você aonde for, em qualquer e todo lugar, tente ser o mais bondoso que puder, tente ser bom, e então chegará o dia em que Allah nos unirá a todos”. Ela é assim: inextricável.
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